Delações avançam, e a Operação Lava Jato só chegou à metade do rio

Quando o mês de abril mal tinha iniciado, a pergunta nos corredores do Congresso Nacional era de quando o relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin, quebraria o sigilo judicial dos processos envolvendo os 77 acordos de delação da empreiteira Odebrecht e viriam à tona os nomes dos mais de cem políticos implicados na trama de corrupção. Uma semana se passou e a apreensão só aumenta em Brasília. Não só por causa do segredo que ainda está imposto sobre os processos, mas também porque o rol de delatores pode aumentar por causa de acordos que estão sendo costurados com o ex-governador Sergio Cabral (PMDB-RJ) e o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ).




Até esta sexta-feira oito novos delatores haviam sido confirmados. Com isso, chega-se ao estratosférico número de 212 acordos de colaboração (tanto na primeira instância como no STF) em uma única investigação. Ainda assim, a operação atravessou “a metade do rio” e não tem data para acabar, conforme relatou ao jornal argentino Clarín o juiz Sergio Moro, responsável pelos processos que correm na primeira instância, em Curitiba. Até o momento, 335 pessoas já foram denunciadas por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A maioria dos partidos políticos foram citados nas investigações, entre eles o PT, PSDB, PMDB, PP, PCdoB, PR e PRB. A estimativa é que mais de 20 bilhões de reais tenham sido desviados só da petroleira Petrobras. Sendo que 10,3 bilhões foram recuperados por meio de repatriação de recursos que estavam escondidos no exterior ou com o bloqueio de bens dos envolvidos.

Diante disso tudo, o que esses novos delatores podem trazer de novo às investigações? Três deles devem afundar ainda mais o PT na lama da investigação. São eles, os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, além de um funcionário deles André Santana. O trio admitiu ter recebido recursos de caixa dois em campanhas eleitorais petistas nos últimos anos.

Outro marqueteiro, Duda Mendonça (que foi investigado no mensalão do PT, e acabou absolvido), deve envolver tanto petistas, para quem trabalhou na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, quanto peemedebistas, como Paulo Skaff, para quem fez campanha ao governo paulista em 2014. No grupo de novos colaboradores há ainda quatro membros da cúpula da joalheria H.Stern, o presidente, Roberto Stern, o vice-presidente, Ronaldo Stern, o diretor financeiro, Oscar Luiz Goldemberg, e a diretora comercial, Maria Luiza Trotta. Eles concordaram em pagar uma multa de 18,9 milhões de reais e em ajudar a Justiça desvendar como Sergio Cabral usou recursos ilícito para encher os cofres dele e de sua mulher, Adriana Ancelmo.

No caso da delação de Cabral, o Ministério Público Federal já está com uma proposta pronta para ser assinada por ele e, possivelmente, homologada pelo STF, na qual 97 pessoas estariam implicadas. Quem participa da negociação diz que há profissionais das mais diversas espécies: de político, a juiz; de doleiro a empreiteiro.

Já quanto a Cunha, deputados que mantiveram contato com seus defensores dizem que o ex-manda-chuva da Câmara está desiludido com o andamento de seus casos e está repensando a possibilidade de revelar tudo o que sabia de esquemas de desvios de recursos públicos. Na quinta-feira passada, Fachin negou mais um pedido de liberdade apresentado pelos advogados de Cunha, que já fora condenado por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O juiz Moro estipulou sua sentença a 15 anos de prisão. O peemedebista é réu em outros dois processos e investigado em outros oito casos.

Enquanto congressistas e membros do governo se preparam para a onda de denúncias que está por vir, os próprios parlamentares tratam de propor novas leis como revide a alguns dos investigadores. Nas próximas semanas, deve retornar à pauta do Senado a nova lei de abuso de autoridade. Sua primeira versão prevê uma série de punições a juízes e promotores (ou procuradores) que “sujarem” a imagem de investigados e réus. Uma nova versão dela deve ser apresentada depois que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e entidades de classe sugeriram alterações.

DO EL PAIS

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