Indígenas deixam comunidades após ataques de garimpeiros na Terra Yanomami, diz Conselho

Foto: Marcelo Marques/Rede Amazônica

Indígenas têm abandonado as comunidades e fugido para a floresta devido a ataques de garimpeiros armados na Terra Yanomami, em Roraima. Ao todo, já foram mais de 23 ataques, desde o dia 10 de maio, informou o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-YY).

O último ataque aconteceu no domingo (13), na comunidade Palimiú, às margens do rio Uraricoera, trajeto usado pelos invasores para chegar até os acampamentos no meio da floresta. Pelo menos 1,2 mil indígenas vivem na área.

Dessa vez, conforme relato dos lideres à Hutukara Associação Yanomami (HAY), os garimpeiros chegaram no local divididos em três barcos e, após atracarem nas margens da comunidade, iniciaram os disparos. Os indígenas precisaram se esconder na mata para fugir dos tiros.

Segundo Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Condisi-YY, a entrada dos garimpeiros no território Yanomami tem aumentado desde 2019, e não houve fiscalização da Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“Eles [indígenas de Palimiú] não conseguem dormir direito, não conseguem cuidar da comunidade, das suas famílias, sair na floresta para pescar e caçar. Estão cuidando hoje da segurança de vida. Outras comunidades fugiram para a floresta. Os garimpeiros estão trabalhando como se fosse na casa deles. Estão intimidando todos os Yanomami, com todos os tipos de armas militares e fuzil”, disse Hekurari.

A reportagem procurou os três órgãos citados por Hekurari para saber o que está sendo feito para conter os ataques na região.

Por meio de nota, a Funai, única a responder o questionamento até a publicação da reportagem, disse que permanece realizando as atividades de sua atribuição nas Bases de Proteção Etnoambiental (Bapes) e acompanha o caso junto à comunidade indígena.

Nesta segunda-feira (14), o Ministério da Justiça e Segurança Pública autorizou o uso da Força Nacional de Segurança Pública na Terra Yanomami, no entanto, não foi informada para qual região. A portaria tem validade de 90 dias, prorrogáveis, e foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Para Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara, a chegada da Força Nacional na região deve trazer mais segurança aos indígenas de Palimiú, mas cobra ações mais rígidas do Governo Federal.

“Nós do povo Yanomami, queremos que as autoridades brasileiras reconheçam os problemas que estamos enfrentando na Terra Indígena Yanomami. Hoje, aproximadamente, são 20 mil garimpeiros no território, destruindo a nossa terra, acabando e poluindo com os nossos rios, e também prejudicando a saúde dos povos Yanomami e Ye’kuanna”, expõe Kopenawa.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem cerca de 27 mil indígenas que vivem em mais de 370 aldeias. Alvo frequente de garimpeiros, desde o dia 10 de maio, a região enfrenta tensão na comunidade de Palimiú em razão de ataques armados de garimpeiros.

A invasão garimpeira causa a contaminação dos rios e degradação da floresta, o que reflete na saúde dos Yanomami, principalmente crianças, que enfrentam a desnutrição por conta do escasseamento dos alimentos.

Em 2020, o ano da pandemia, o garimpo ilegal avançou 30% na Terra Yanomami. Só o rio Uraricoera concentra 52% de todo o dano causado pela atividade ilegal. Por G1

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