Conheça a história marcada por superação e desafios da primeira dama da empresa Laticínios Sertão Jucurutu, Jailde Araújo

Com uma história marcada pela superação de desafios, a empresária fala sobre sua veia empreendedora que a ajudou a contribuir com as transformações implementadas na empresa da família.

Quem tem a oportunidade de conhecer a empresária Jailde Oliveira de Araújo, um dos nomes fortes na administração da empresa potiguar Laticínios Sertão Jucurutu, talvez não imagine os desafios que ela superou ao longo de sua vida, até alcançar o cargo que ocupa junto com seu esposo, o empresário Otto Wagner de Araújo, na maior empresa do Rio Grande do Norte na produção de queijos, além de ser uma das maiores do Nordeste.

Filha de Nelson Oliveira da Silva e Irene Teodora de Araújo, a caicoense se divide entre as responsabilidades como empresária, esposa e mãe das jovens Lara Clarissa e Jamile Waleska, fruto de um sólido casamento com Otto. Formada em Administração, em 2014, pela Universidade Paulista (UNIP), abriu mão de um emprego público como técnica de enfermagem, função que desempenhava há 17 anos, na Prefeitura de Jucurutu, para ajudar seu esposo na administração da empresa que vivia um momento de expansão. Empreendedora nata, Jailde Araújo, lembra que desde cedo essa característica foi se fortalecendo, desde o trabalho como vendedora de lojas ainda muito cedo, até sua rotina de negociação com fornecedores e empresários do setor de laticínios.

“Meu pai, apesar de não ser comerciante, comprava e vendia bicicletas no Beco da Troca, em Caicó, mas nunca me deixou participar desse negócio. Apesar disso, sempre gostei de comprar e vender, e tudo que eu me propunha a comercializar, eu vendia rápido. E despertei para essa habilidade de empreender quando comecei a trabalhar com vendas, antes mesmo de assumir a função na empresa”, afirma.

Jailde Araújo começou trabalhar muito cedo. Ela trabalha desde os 15 anos, estagiou como menor aprendiz na Prefeitura de Caicó, foi frentista e trabalhou também como atendente em um consultório odontológico. Trabalhou em lojas do comércio de Caicó e também foi vendedora ambulante de roupas e peças íntimas. “Também trabalhei com contrato na Prefeitura de Jucurutu, trabalhando quatro anos como professora do ensino fundamental na zona Rural, e fiz um curso em São Paulo, uma formação para trabalhar com Educação de Jovens e Adultos. Quando o contrato encerrou fiz um concurso na Prefeitura de Jucurutu para o cargo de Auxiliar de Serviços Gerais (ASG), para ter mais estabilidade, e fui convocada na primeira lista de aprovados. Com o dinheiro que ganhava trabalhando na Prefeitura paguei um curso Técnico de Enfermagem, e depois de um tempo assumi a função de técnica de enfermagem no município, função que exerci por 17 anos. Com o emprego de técnica de enfermagem fui pagando a minha faculdade de administração”. Nesse período seu esposo já tinha uma pequena queijeira em Jucurutu, que estava aos poucos crescendo. E foi durante sua formação que ela foi percebendo que seu esposo estava precisando de sua ajuda na empresa, então precisou sair do emprego de técnica de enfermagem para ajudá-lo na parte administrativa da fábrica que estava em expansão e Otto estava sobrecarregado, acumulando muitas funções na empresa. “Como eu era uma pessoa de confiança e que já respondia pela razão social da empresa, ele me fez o convite para ajudá-lo, e aceitei o desafio. Mesmo amando a profissão que desempenhava desde meus 22 anos, pedi um afastamento da prefeitura, no intuito de voltar a exercer a função de técnica de enfermagem. No entanto, eu não tive mais como voltar, porque a empresa foi crescendo ainda mais. Também me identifiquei com o ambiente e a função administrativa. Então decidi abrir mão do trabalho como técnica de enfermagem e decidi continuar na empresa trabalhando junto com meu esposo”, enfatiza.

Visionária

Logo que recebeu o convite do esposo para trabalhar no setor administrativo da Laticínios Sertão Jucurutu, Jailde Araújo iniciou o processo de implementação de muitas ideias que provocaram uma transformação geral na estrutura da empresa da família. No entanto, ela conta que nem tudo que foi proposto foi visto de forma positiva pela equipe de colaboradores, que estavam acostumados com uma forma de trabalhar e precisaram se adaptar a nova realidade. A empresária lembra das dificuldades enfrentadas nessa fase. “Eu já tinha a experiência da minha formação em administração, mas foi com muita dificuldade porque a empresa deu um “up” no crescimento numa proporção que a gente não estava preparado para atender toda a demanda. Precisei fazer um organograma, chamar um consultor para me ajudar nessa parte, para definir bem os setores, criar novos setores necessários para melhor funcionamento. Foram muitas mudanças, que inicialmente não foram bem aceitas, alguns não viram com bons olhos, não entendiam que era realmente necessário. Mas, entendo que isso é normal quando é preciso fazer mudanças. Hoje, os colaboradores já entendem que toda essa transformação foi necessária, e me aceitam mais como parte da direção da empresa. A gente só tem que agradecer a Deus por ter dado certo, conseguido implementar essas mudanças, e continuar trabalhando”, relata.

Outro desafio enfrentado por Jailde, se deu pelo fato de ser mulher, assumindo um cargo na direção de uma empresa onde a maior parte da equipe é composta por homens. Para ela, apesar de hoje a mulher vir cada vez mais conquistado seu espaço, por várias vezes se sentiu inibida na relação com os funcionários, ao precisar delegar alguma função ou pedir que realizassem alguma tarefa, e algumas vezes não ser atendida. “Pelo fato de eu ser mulher e também por não me enxergarem como alguém na posição de chefia, como veem meu esposo. As vezes foi necessário Otto esclarecer que eu estava também na administrativa. Já com os fornecedores, eu não senti nenhuma dificuldade, por fazer parte do financeiro, eles até achavam melhor negociar comigo, porque a gente conseguia trocar mais ideias e fechar mais negócios. Então nessa relação com os nossos fornecedores eu sempre me dei muito bem. Já com outros empresários do mercado, também não tinha muito acesso, já que Otto entendia mais dessa parte de equipamentos, máquinas e insumos, mesmo assim eu sempre estive junto com ele”. Jailde participa ativamente nas decisões importantes relacionadas à empresa. Um exemplo, foi a compra de um importante equipamento para a melhoria da produção industrial. “Eu sugeri comprar um pasteurizador, que Otto não queria comprar naquele momento, por se tratar de um investimento muito alto. Mas, insisti nessa ideia e hoje esse equipamento é o coração da empresa, porque está proporcionando um retorno excelente. Estou sempre dando dicas de investimentos em bons equipamentos mesmo que sejam mais caros, porque se o nosso objetivo é levar para mesa dos consumidores um produto de qualidade, precisamos estar sempre melhorando nossa produção”. Ela ressalta que a aquisição de uma padronizadora junto com o pasteurizador elevou a produção industrial à excelência. Jailde comemora o fato de ter tido a visão de que os equipamentos contribuiriam para o crescimento da empresa, e enfatiza que as melhorias trazidas por eles já cobriram o investimento feito. E a Laticínios Sertão Jucurutu caminha para dar mais alguns passos expandindo ainda mais a abrangência no mercado. 

Jailde Araújo diz que entre os projetos que estão para sair do papel, está a abertura de uma loja na BR 226 em Jucurutu, para vender nossos produtos diretamente para o consumidor final, para dar mais visibilidade aos produtos na cidade, já que nem tudo que é produzido na empresa é comercializado na cidade, por questões que vão além do interesse deles. “Então essa foi a forma que encontrei de disponibilizar todo o nosso leque de produtos, uma loja própria, junto com outros produtos típicos da nossa região. A loja será uma espécie de ponto de passagem, um local onde aquelas pessoas que estão viajando poderão parar para tomar um café, comer alguma coisa, e também adquirir nossos produtos. E temos a ideia de expandir esse projeto para se tornar também uma pousada para receber justamente esses viajantes. Temos outros planos e projetos que vamos divulgar mais na frente”, afirma.

Empresa da Família

Para a empresária, fazer parte da empresa junto com seu esposo é muito gratificante, representa a concretização de um sonho. “Conseguimos ultrapassar muitos obstáculos que vivenciamos ao longo dessa trajetória. E fazer parte dessa empresa é algo muito especial, principalmente por poder contribuir com minha formação em administração, foi uma forma que eu encontrei de ajudar para que a empresa continuasse firme assim como fazer com que conseguíssemos avançar, com novas ideias”, destaca. Quando olha para trás e vê o caminho percorrido pela empresa até hoje, ela diz que sentimento que tem é de gratidão a Deus, porque a trajetória foi difícil. “A gente vê o quanto Deus esteve presente em nossa vida, em cada momento. A gente lutou muito, foi preciso muita dedicação tanto de Otto, quanto minha, muito trabalho, foco e até sofrimento, para conseguirmos alcançar cada um dos nossos objetivos. Não perdemos a fé. As pessoas não acreditam, mas a fé é algo sobrenatural e nos move, nos momentos de maior dificuldade”.

A empresária faz questão de lembrar que trabalhar em uma empresa familiar tem vantagens, mas também impõe alguns desafios. “Essa é uma questão muito difícil. A gente vai tentando administrar o nosso dia a dia, resolvendo os problemas que vão surgindo, sempre priorizando a familia, mantendo o respeito. Vamos trabalhando o cotidiano na empresa, para evitar que o fato de estarmos trabalhando com pessoas da família não atrapalhar nas decisões necessárias. É complicado, mas estamos conseguindo estabelecer esses limites, separando quando é o momento de pensar na empresa, e o momento de cuidar da família”. Outro desafio tem sido conciliar as responsabilidades empresariais e suas prioridades como mulher, mãe, dona de casa e no relacionamento com o esposo. “É uma luta constante. Porque nós mulheres nunca paramos. Ao mesmo tempo que a gente lutou muito pelos nossos direitos a gente acabou acumulando mais obrigações em nossas vidas. Ainda estamos lutando para que a divisão dessas tarefas seja feita de forma igualitária, que os homens também assumam tarefas em casa, porque a gente conquistou espaço fora de casa, como profissional, mas não deixou de cumprir com as atribuições de casa”, comenta. Por ter tantas atribuições, Jailde lamenta não conseguir estar tão presente no dia a dia das suas filhas, por isso dá muita importância a qualidade de tempo que tem com elas. “Sempre que temos oportunidade de passar momentos juntos, faço questão de apreciar a companhia delas, e conseguimos estabelecer uma relação muita cumplicidade, sei que elas me amam e entendem meu lado”, lembra. Já como esposa, diz que busca estar presente, acompanhar quando é possível, apoiar sempre. “Acredito que também tenho conseguido cumprir bem meu papel como esposa”

Superação

Jailde Araújo é a caçula de uma família relativamente grande, já que sua mãe teve cinco filhos, dois homens e três mulheres. Porém, ela não chegou a conhecer os irmãos, que morreram antes do seu nascimento. Aos 2 anos de idade ela conta que ficou órfã de mãe, e foi morar com seus avós paternos. “Quando minha mãe morreu, ficamos três meninas, minha irmã mais velha tinha 9 anos, a do meio tinha 7, e eu tinha dois. Eu era uma criança muito alegre, gostava muito de brincar, estava sempre a frente do grupo de amigas nas brincadeiras, sempre me senti muito querida pelas pessoas a minha volta”, lembra.

Aos 13 anos de idade, Jailde vivenciou mais uma difícil perda. Sua avó, Alice Iraci da Silva, a quem tinha como referência como mãe, também faleceu. “Ela era muito protetora, cuidou muito de mim, e até mimou muito, foi mãe duas vezes sofri muito ao precisar enfrentar a vida sem ela. Como meu pai havia constituído uma nova família decidi morar com uma vizinha de minha avó, Maria Santana da Silva, que considerava como uma pessoa da família, e tinha muito carinho por ela”. Na busca pela independência, morou um tempo na casa do dentista Vicente Macedo, bastante conhecido em Caicó, para fazer companhia a sua esposa, a senhora Aurélia Macedo. Depois conseguiu uma vaga na Casa do Estudante em Caicó, onde foi morar, porque fazia questão de não parar de estudar. “Ela me acolheu como filha e me ajudou muito. Ainda temos uma relação de muita estima uma pela outra até hoje. Admiro muito todo o apoio que ela me deu para estudar, lutar pelos meus objetivos, me incentivou muito, me ensinou tudo, foi através dela que consegui meu primeiro emprego, na prefeitura de Caicó”, comenta.

Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas ao longo da vida, Jailde Araújo sempre foi muito persistente e lutou por seus objetivos. E como conselho para as jovens que sonham empreender, conquistar seu espaço, ela afirma que não se deixem abater pela insegurança. “Não deixem o medo interferir na busca de seu sonho. Acreditem no seu potencial, todas nós podemos e temos condições de conquistar aquilo que a gente sonha. Não tenham vergonha de dizer quando não sabem de algo, de procurar ajuda, porque ninguém nasce pronto, é um processo. Para algumas pessoas é mais rápido, outras demoram um pouco mais para descobrir o caminho para trabalhar suas habilidades como empreendedor. A capacitação também é importante, busque sempre pelo conhecimento. Também não esqueça de se apegar na sua fé, colocando Deus em primeiro lugar”, conclui

Por Anselmo Santana / Revista Acontece

1 Comentário

Leônidas Miguel Neto

ago 8, 2021, 7:15 pm Responder

O estória bonita principalmente com Dois caicoense nascidos e criados no bairro Castelo

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