Coronel Azevedo sugere criação de uma associação para pacientes laringectomizados
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Promover a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e pescoço, além da necessidade de reabilitação fonatória aos pacientes laringectomizados. Esse foi o objetivo da audiência pública promovida pelo deputado Coronel Azevedo (PSC), na tarde desta segunda-feira (30), na Assembleia Legislativa.
“Esse é um assunto de extrema relevância na sociedade. No Brasil, em casos avançados desses tumores, cerca de 10 mil pessoas já morreram. Já os sobreviventes enfrentam perdas irreversíveis, que afetam a sua qualidade de vida antes, durante e após tratamento. Anualmente, acontece a campanha nacional de prevenção do câncer de cabeça e pescoço, conhecida como “Julho Verde”, que busca ampliar o número de diagnósticos precoces. E é tudo isso que iremos discutir hoje”, iniciou o parlamentar.
Abrindo os discursos da Mesa dos Trabalhos, a presidente da Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil), Melissa Ribeiro, explicou que a associação está convocando audiências públicas em todo o País, a fim de chamar a atenção não apenas para a importância do diagnóstico precoce, mas também para o fato de que os pacientes são alvos muito fáceis da Covid.
“Nós conseguimos respirar através de uma ligação imediata aos pulmões, ou seja, não temos o sistema de filtragem que a maioria das pessoas tem, que as protege contra vírus, bactérias, poluentes etc. Nós, da associação, trabalhamos há quase 7 anos nessa luta e queremos muito ver o RN ser um exemplo de cuidado, dignidade e respeito aos pacientes do Estado”, convocou.
Segundo Melissa, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), existem cerca de 7 mil casos novos de câncer de laringe, por ano, no Brasil. Desse número, 50% caem por morte antes mesmo do tratamento. Dos outros 50%, dentro de um mês a um ano, há um índice de óbitos de 30%. Além disso, há cerca de 11 mil pacientes sem voz que não possuem reabilitação no País.
Em seguida, a advogada e membro da associação, Daniela Kovaliski, destacou que o grupo está bastante esperançoso de que a audiência gere uma ação positiva da Secretaria de Estado da Saúde Pública do RN (Sesap/RN).
“Nós estamos dispostos a compartilhar com a secretaria tudo que temos sobre a padronização dos insumos necessários ao cuidado adequado dos pacientes laringectomizados, como os adesivos, a cânula e o filtro utilizado no nariz para proteger de contaminações externas. Mas se até setembro nós não tivermos uma resposta positiva, teremos que entrar com um mandado de segurança”, alertou, sendo complementada pelo deputado, que garantiu que encaminharia requerimento à governadora Fátima Bezerra, para que agilizasse o pleito.
Na sequência, o coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Liga Norte-rio-grandense Contra o Câncer, Dr. Luiz Eduardo Barbalho, falou sobre a definição do câncer de laringe; a epidemiologia; por que o assunto deve ser tratado como um problema de Saúde Pública; tratamento precoce x tardio; e sequelas.
“O câncer de cabeça e pescoço ocorre na boca, garganta e laringe (cordas vocais). É o terceiro tipo de câncer mais frequente em homens no Brasil, além de ser causado principalmente pelos maus hábitos de fumar e beber muito”, explicou.
Segundo o coordenador, o Inca estima que, para o triênio 2020-2022, o Brasil terá quase 7 mil novos casos em homens, e 1.180 entre as mulheres.
“Hoje o câncer de laringe ocupa o quinto lugar de prevalência no Brasil. No Estado do RN, é esperado para o mesmo triênio, cerca de 180 novos casos em homens”, acrescentou.
Sobre o impacto da pandemia na área, ele falou dos recorrentes casos de atraso no diagnóstico, em virtude do isolamento e da dificuldade de acesso da população.
“Os pacientes começaram a chegar em estágio muito avançado para nós. Uma médica nossa, por exemplo, chegou a fazer 20 laringectomias em 2020. Esse número é absurdo, e nós lamentamos muito. Isso reflete o peso da pandemia nesse processo. É um preço que vamos pagar por muito tempo ainda”, disse.
De acordo com o Dr. Luiz, o tema deve ser tratado como questão de Saúde Pública, principalmente por causa dos seus índices.
“Se formos analisar o impacto disso no SUS, é devastador. Saímos da oportunidade do diagnóstico precoce, em que um simples exame visual pode detectar o tumor num estágio inicial e que muitas vezes pode ser tratado somente com radioterapia, para a situação que estamos vivenciando, de pessoas perdendo suas cordas vocais. E a gente sai de um baixo para um altíssimo custo para o SUS. Por esses e outros motivos, precisamos alertar para o diagnóstico precoce”, argumentou o profissional.
Falando em soluções, o médico disse que é preciso promover cursos de capacitação para quem está na atenção básica primária, como clínicos e odontólogos; ações de diagnóstico na base, com a oportunidade de biópsias e exames de laringoscopia; e investir mais nos programas de reabilitação.
Dando continuidade ao evento, o paciente Cosme da Silva, do município de Senador Elói de Souza, contou um pouco da sua experiência e destacou a importância do filtro e do adesivo para os laringectomizados.
“O filtro é o nosso nariz artificial. Imagine, na pandemia, você estar com esse órgão aberto e sem defesa. Quanto à minha voz, ela só sai por causa da prótese vocal. Se eu parar de apertar, não sai nada. Então, eu queria pedir aos governantes que se empenhem para conseguir esses insumos. Eu sei que no RN a única secretaria que doa esses insumos aos pacientes é a do meu município. Mas, a partir de agora, com o apoio da Assembleia Legislativa, eu acho que teremos boas notícias e melhores condições de vida”, disse o paciente.
Para a Dra. Maria Alice Cavalcante, fonoaudióloga e atuante na área há vinte anos, a pandemia trouxe um atraso imenso com relação ao diagnóstico.
“A gente sabe que vão surgir novos pacientes. Ainda não temos isso em quantidade de laringectomizados no RN, mas sabemos que são muitos. E nós sabemos que muitos estão em casa ainda, sem nenhuma reabilitação. Além disso, muitos estão nos interiores, e a própria família cansa de vir para Natal trazê-los ao tratamento”, narrou.
Segundo a fonoaudióloga, uma rouquidão superior a 15 dias precisa ser investigada. “E todos começaram com alguma rouquidão, que foi passando, aí o paciente tomava medicamento, depois ela voltava. Até que se chega ao extremo de retirar a laringe”, explicou.
Ainda de acordo com a Dra. Maria Alice, para os pacientes laringectomizados a reabilitação acontece de três formas: prótese vocal; laringe eletrônica; e voz esofágica, que é a produzida pelo próprio esôfago e que poucos pacientes conseguem emitir.
“O que nós precisamos padronizar aqui no RN é que os pacientes saiam do centro cirúrgico já com os insumos, a prótese vocal e a laringe eletrônica, que são disponibilizados, por exemplo, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina”, disse, esclarecendo que esses pacientes são considerados por lei como deficientes da fala, possuindo os mesmos direitos das outras pessoas com deficiência.
Sobre a possibilidade de criação de uma associação para o RN, a doutora explicou que as forças seriam somadas, e não divididas.
“Eu acolho a sugestão do deputado e digo que nós vamos sentar para conversar a respeito. Eu espero que sirva de modelo para os estados vizinhos, para que consigamos criar cada vez mais associações pelo País. E eu também espero que a gente não receba tanta resposta negativa quanto nos últimos anos, porque é muito triste bater na porta do Poder Público e não ser atendido”, reivindicou.
Como encaminhamentos, o Coronel Azevedo citou a audiência que será realizada com o secretário estadual de Saúde. O parlamentar disse também que pediria a cooperação do Ministério Público Estadual junto à demanda da associação, caso não seja atendida pela Sesap. Ele disse ainda que, se a associação estadual for criada, irá destinar recursos do seu mandato para auxiliar a futura instituição.
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