100 anos de Paulo Freire: veja 5 ensinamentos atemporais do educador
Conhecido desde 2012 como “Patrono da Educação Brasileira”, Freire atuou principalmente na educação de adultos em áreas proletárias de Pernambuco. Veja aspectos de seu legado que ainda podem ser aplicados nas escolas e universidades, segundo estudiosos.
Neste 19 de setembro de 2021, o recifense Paulo Freire completaria 100 anos. Segundo estudiosos, as ideias do educador continuam representando um norte para escolas e universidades que veem a sala de aula como mecanismo de transformação social.
“Por vivermos tempos repressivos, o legado dele volta ainda com mais força”, afirma Walkyria Monte Mór, professora da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Projeto Nacional de Letramentos: Linguagem, Cultura, Educação e Tecnologia.
Desde 2012, Freire passou a ser considerado por lei o “Patrono da Educação Brasileira”. Seu trabalho é reconhecido mundialmente: ele temtítulos em 41 instituições de ensino, como nas universidades de Harvard, Cambridge e Oxford.
Em livros como “Pedagogia do Oprimido”, o mais famoso deles, o autor defende o papel primordial da educação no processo de conscientizar o povo e levá-lo ao senso crítico.
Abaixo, veja em que aspectos o legado de Paulo Freire ainda pode ser considerado atual, na visão de três professores que estudam sua obra:
1- Importância de compreender a realidade do aluno
Freire defendia a teoria chamada “pedagogia do afeto”, explica Kleber Aparecido, professor da Universidade de Brasília (UnB).
Na prática, isso ocorreria por meio do diálogo aberto, com empatia e constantes trocas de conhecimento.
Pensando em um contexto atual: para uma aprendizagem efetiva, um professor que recebe os alunos nas salas de aula, após mais de um ano de escolas fechadas, não deve se atentar somente ao cumprimento de currículos. Precisa praticar a afetividade e “abrir a porta” para a conversa.
Dessa forma, para Freire, o estudante entenderá que também pode contribuir com o desenvolvimento de todos, descobrirá mais sobre sua identidade e ficará mais interessado e criativo.
2- Alfabetização de adultos
Nas décadas de 1950 e 1960, Freire dedicou-se à educação de adultos em áreas proletárias (urbanas e rurais) de Pernambuco.
Pelo método de alfabetização que até hoje leva seu nome (e que foi colocado em prática pela primeira vez em Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1962), as aulas partem de elementos do cotidiano dos alunos analfabetos.
Em vez de tomar como base “frases feitas” de apostilas, como “o bebê babou”, o educador baseia-se no vocabulário que faz parte do dia a dia do trabalhador: “cana”, “enxada”, “terra” e “colheita”, no caso de uma turma de agricultores.
“É tudo feito a partir do contexto-realidade dos alunos. O método fônico, por exemplo,defendido pelo governo atualmente, foca o processo de alfabetização nos sons, a partir de frases distantes da realidade das crianças.Freire defende o contrário: que as aulas trabalhem a partir do contexto dos alunos”, diz a professora da USP.
3- Formação de cidadãos críticos
Monte Mór, docente da USP, afirma que, pelos ensinamentos de Paulo Freire, “o aluno percebe que tudo o que aprende é fruto do olhar de certas pessoas.”
“A partir do momento em que temos alunos problematizadores, que não aceitam de imediato o que é ensinado, teremos menos pessoas alienadas. Isso nem sempre é interessante para a política brasileira”, diz.
4- Respeito às diferenças
Walkyria Monte Mór expõe que a pedagogia de Paulo Freire “ajuda a construir a identidade das pessoas”.
“Elas entendem que existiu um projeto [na educação tradicional] de instituir o que é certo e o que é errado. Passam a perceber que há outras formas e ideias que não podem ser consideradas inferiores.”
Um exemplo apresentado por Monte Mór é o ensino da gramática normativa. Dependendo de como a aula for ministrada, o estudante pode entender que determinados modos de falar e escrever são menos respeitáveis do que aqueles que obedecem à norma padrão da língua.
5- Empoderamento dos mais pobres
Quando Freire escreve que a educação é para todos, “refere-se aos que estão à margem da sociedade”, explica Aparecido, da UnB. “São os indígenas, os surdos, os pobres, os negros. É dar oportunidade e empoderar essas pessoas por meio da educação.”
Segundo Walkyria Monte Mor, a política de cotas em universidades, por exemplo, é um movimento freireano.
“Aos poucos, estamos nos abrindo para esse processo de mudança.”
1 Comentário
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Sérgio
set 9, 2021, 8:04 amA geração Paulo Freire tá “perfeita”, professores se quererem dar aula e alunos que não sabem de nada…