Passagens aéreas acumulam alta de 56,8% em 12 meses e frustram planos de viagens
Foto: Daniel Neto
No momento em que cerca de 70% da população brasileira está vacinada contra a covid-19 ao menos com a primeira dose e se sente mais à vontade para retomar viagens aéreas, um fator pode complicar os planos de voar: o preço dos bilhetes. A inflação generalizada pesou sobre o setor de aviação. No acumulado de 12 meses, as passagens aéreas tiveram aumento de 56,81%, ficando atrás apenas de quatro itens, três deles do grupo de alimentos, além do etanol.
A diferença é considerável se comparada ao índice geral da inflação acumulada de 12 meses, que ficou 10,25%, o maior desde fevereiro de 2016.
Os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira, 8, ajudam a confirmar o sentimento de quem está na busca de um voo acessível, mas não encontra preços que caibam no bolso. É o caso da analista de sistemas Suellen Gonçalves Guimarães, 35 anos. Desde junho, ela estava em busca de um destino para aproveitar as férias escolares de janeiro com a família.
Residente em Brasília, ela pensou inicialmente em partir para Salvador (BA), mas a viagem para quatro pessoas custaria um total de R$ 5,2 mil só em passagens. Mesmo com oito meses de antecedência, o valor é considerado altíssimo pela família.
Suellen tentou outros destinos, mas o desembolso continuou inviável. A analista de sistemas conta que conseguiu viajar para Fortaleza (CE) no início do ano com as duas filhas e o marido. Os pais de Suellen não embarcaram juntos em razão da pandemia. Agora, com o avanço da vacinação, planejavam ir. Mas os planos acabaram frustrados pelo preço das passagens. “Estamos tentando a estratégia de viajar em julho de 2022. Estou monitorando as passagens, que também não têm muita diferença. O preço continua salgado”, disse ela.
A alta dos combustíveis está diretamente ligada a essas tarifas salgadas, outro pesadelo que incomoda o brasileiro. O setor aéreo é extremamente sensível a esse produto, porque o querosene de aviação é um dos principais custos para as companhias. Relatório da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) ressalta esse peso. Na média do segundo trimestre, o valor do litro do querosene de aviação ficou 91,7% superior ao verificado no mesmo período do ano anterior.
A reabertura da economia e o aumento da demanda devido ao avanço da vacinação são outros fatores que explicam o avanço no preço dos bilhetes. A busca pelos destinos nem sempre é acompanhada por uma oferta suficiente por parte das companhias.
O relatório da Anac aponta para um aumento nas passagens nos meses de abril, maio e junho. Em relação aos mesmos meses do ano passado, o avanço no preço médio dos voos domésticos foi de 21,7%. A variação também pode ser explicada pela queda que o ticket médio sofreu no segundo trimestre de 2020, quando a pandemia fez o volume de voos cair em mais de 90%.
Questionada sobre a alta apontada pelo IBGE nos preços das passagens, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) afirmou que o levantamento feito pela Anac é o que “melhor retrata o comportamento das tarifas aéreas”, já que considera todos os bilhetes efetivamente comercializados num determinado período. Já o IPCA, do IBGE, considera um recorte específico de datas e de destinos mais visitados no País.
Em nota, a Abear destacou que, no segundo trimestre deste ano, o preço da tarifa média doméstica registrou queda de 19,98% em comparação com o mesmo trimestre de 2019, período prévio aos impactos da pandemia da covid-19. “O preço médio do bilhete foi de R$ 388,95, ante R$ 486,10. O ‘yield tarifa aérea’ (valor que o passageiro paga por quilômetro voado), por sua vez, teve retração de 32,3% no segundo trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2019”, afirmou a associação.
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