D. Jaime Vieira escreve o livro ‘Monsenhor Expedito: um arauto da dignidade humana no sertão potiguar’
O livro “Monsenhor Expedito Sobral de Medeiros: um arauto da dignidade humana no sertão potiguar”, escrito por Dom Jaime Vieira Rocha, arcebispo de Natal, é um registro biográfico e ao mesmo tempo emocional sobre um dos religiosos mais queridos da história potiguar recente. Monsenhor Expedito (1916-2000) se notabilizou pelo resiliente trabalho social, especialmente na luta pelos recursos hídricos para o interior do estado, missão que o levou a ser chamado por títulos como “Monsenhor das Águas” e “Profeta das Águas”. A obra já está à disposição na livraria da Catedral Metropolitana.
O livro teve origem na dissertação de mestrado de Dom Jaime. Segundo o arcebispo, o Mons. Expedito foi um homem à frente do seu tempo. “Nele, estava tudo aquilo que sintetiza as ações da Igreja, do ponto de vista da promoção humana, testemunho, empenho com os mais pobres, e a situação do Nordeste. Eu fui me voltando para esse estudo e vi que poderia explorar algum aspecto do Mons. Expedito com meu olhar de padre, de pároco e, também, na área das ciências sociais. Eu escolhi estudá-lo com essas motivações”, disse.
Expedito Sobral nasceu em São Rafael, tendo passado pelas paróquias de Jardim do Seridó, Touros, São Rafael, e São Paulo do Potengi – de onde foi pároco por 56 anos. A luta pelo acesso democrático aos recursos hídricos começou na década de 50, quando, acompanhado de outros padres, ele ouviu de um trabalhador a frase “monsenhor, tira nós dessa escravidão”, durante uma visita a uma comunidade rural. Desde então, não cessou de se engajar nessa luta.
Missa do agricultor
Dom Jaime registra bastante os momentos da luta do monsenhor, especialmente em suas célebres “missas do agricultor”, em São Paulo do Potengi. “Era o momento que ele reunia todos os paroquianos, para trazer as oferendas dos frutos da terra e do trabalho e, ali, ele convidava alguém da Igreja, mas, também alguém de destaque da sociedade, para falar sobre direitos humanos, ação social da igreja”, relatou o arcebispo.
Segundo Dom Jaime, Expedito sempre levava alguém para ajudar os agricultores, para que tivessem uma visão mais ampla do mundo, da realidade, dos desafios, e pudessem se conscientizar. “Eu mesmo tive a oportunidade, como reitor do Seminário, de participar destas celebrações, porque ali havia uma grande coleta de gêneros alimentícios, que seriam destinados ao Seminário. E eu tive essa graça de conviver com esta referência tão bonita que era o Mons. Expedito”, contou.
Os frutos da luta de Mons. Expedito vieram na década de 90, quando ele conseguiu com que o amigo de infância Garibaldi Alves Filho assinasse a lei que criou o Programa de Recursos Hídricos, em 1996. O projeto propunha a transposição das águas de rios e represas para distribuição à população das áreas carentes. Foi sua última grande obra no campo social, obtida utilizando a força moral da igreja. Uma das três adutoras recebeu seu nome, e leva água potável a 23 cidades ou povoados do estado.
Dom Jaime ressaltou que trouxe para o livro a imagem de homem valoroso que Mons. Expedito lhe trouxe como referência. “Por exemplo, o amor que ele tinha à Igreja, o amor que significava participação, presença. Neste amor à Igreja, estava a fidelidade que ele tinha em participar de todos os encontros mensais do clero. Todos os meses, ele estava lá”, afirmou.
O arcebispo acredita que pela sua postura de cristão humanista, Expedito deve ser uma figura a se tornar exemplo de conduta para os sacerdotes de hoje. “Ele era doutor da vida do povo, dos nordestinos, dos paroquianos. Sempre falava aquela mesma linguagem. Ele também tinha uma visão, como padre, de vestir a camisa do sofrimento dos humildes e mais pobres, além de ter uma consciência de que, pela evangelização e testemunho, poderia fazer algo a mais pela vida do povo”, conclui.
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