Cármen Lúcia destrava ação que pode derrubar candidatura de Pablo Marçal

A presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia, destravou uma ação que pode derrubar a candidatura do coach Pablo Marçal (PRTB) à prefeitura de São Paulo. A ação estava parada há mais de 20 dias no gabinete da magistrada.

Em despacho publicado neste domingo (25), a ministra Cármen Lúcia pediu que Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, se manifeste sobre as acusações feitas por Aldineia Fidelix, viúva de Levy Fidelix, fundador do PRTB.

Na ação, Aldineia acusa a atual direção do PRTB de ter dado um golpe no partido para viabilizar a candidatura de Pablo Marçal à prefeitura de São Paulo.

Além da manifestação de Leonardo Avalanche, presidente do PRTB, a ministra Cármen Lúcia também pediu que o Ministério Público Eleitoral se manifeste sobre o caso.

Entenda o caso

Herdeira do partido do “homem do aerotrem” – que disputou duas vezes a Presidência da República -, Aldineia denuncia que a candidatura do ex-coach foi viabilizada por meio de um golpe interno no PRTB, comandado pelo atual presidente da sigla, Leonardo Leonardo Alves de Araújo, o Avalanche, que já confidenciou ter ligação com o Primeiro Comando da Capital, o PCC.

Segundo a viúva de Fidelix, Avalanche quebrou um acordo para que ela assumisse o comando do diretório da sigla em São Paulo.

Para impor a candidatura de Marçal, Avalanche teria colocando em marcha um golpe para controlar 20 cargos do diretório nacional do PRTB e seis na Executiva Nacional, além de colocar aliados no comando do partido em cinco estados, incluindo São Paulo.

“Não bastasse, o Sr. Leonardo Alves de Araújo não só está descumprindo o acordo como também tem deliberado sobre o processo eleitoral de 2024 como se fosse ‘dono’ do partido, fazendo acordos e indicando candidatos ao arrepio das normas estatutárias”, afirma Aldineia, segundo a coluna de Malu Gaspar, no jornal O Globo.

Na ação, ela pede a anulação de todos os atos de Avalanche no comando do PRTB, o que incluiria a oficialização da candidatura de Marçal à prefeitura de São Paulo, oficializada no dia 5 de agosto, no limite do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral.

A crise interna no PRTB começou em fevereiro. Dois meses depois, em 5 de abril – último dia da janela partidária -, Marçal se filiou à sigla.

Em 24 de maio, quando o presidente que diz ter ligação com o PCC já dominava o partido, Marçal anunciou que entraria na disputa na capital paulista.

Avalanche, PCC e cocaína

Presidente do PRTB, Leonardo Avalanche foi gravado em uma conversa com um correligionário onde afirma que tem contato com integrantes da facção criminosa PCC.

A gravação foi realizada em fevereiro deste ano durante conversa com Thiago Brunelo, filho de um dos fundadores do partido. A conversa entre os dois tem como pano de fundo a disputa pelo comando do PRTB.

Na conversa, Leonardo Avalanche tenta mostrar que possui influência sobre autoridades da República para conquistar apoio de Brunelo, que não tinha consciência de que estava sendo gravado.

“Não tem o Piauí, de [inaudível]? Não tem o chefe do PCC que está solto? Ele é a voz abaixo”, disse Avalanche, referindo-se ao seu motorista. “Ele nunca mexeu com política. Hoje ligaram para o menino, né, lá de dentro da cadeia e falaram: ‘Estou trabalhando pro Avalanche de motorista’.”

O Piauí citado pelo presidente do PRTB é o ex-chefe do PCC na favela de Paraisópolis (SP) Francisco Antônio Cesário da Silva.

Em outro momento, Avalanche, presidente nacional da sigla de Pablo Marçal, que disputa a prefeitura de São Paulo, diz que foi o responsável pela soltura de outro chefe do PCC.

“Eu sou o cara que soltou o André [do Rap]. A turma não sei se vai te contar isso. Esse é o meu trabalho, entendeu? A próxima, agora, a gente vai botar um lugar acima dele. Esse é o meu dia a dia […] Eu faço um trabalho bem discreto”, disse Avalanche.

Posteriormente, Avalanche fala sobre a candidatura de Pablo Marçal. O dirigente afirma que Marçal não tem chances de vencer, mas a sigla teria poder de barganha caso ele fosse ao segundo turno.

“Nós temos chance de ganhar? Não. Mas é quando ele for para o segundo turno, entendeu? Eu sei que não ganha, mas é o que a turma falou: põe ele e depois a gente senta e conversa”, disparou Avalanche.

Além disso, uma investigação da Polícia Civil de São Paulo revelou que dois assessores do partido próximos a Avalanche teriam trocado carros de luxo por pacotes de cocaína com o PCC.

Tarcísio Escobar de Almeida, que chegou a ser nomeado presidente estadual do PRTB em São Paulo, mas que teve que deixar a função três dias depois porque sequer tinha título de eleitor, e Júlio César Pereira, conhecido como Gordão, eram os homens mais próximos de Leonardo Avalanche na sigla.

Conforme a apuração das autoridades policiais, Escobar e Gordão têm relação direta com o PCC e teriam realizado a função de financiar o tráfico de drogas para a poderosa quadrilha brasileira que atua em pelo menos 24 países.

Os agentes estavam monitorando na Zona Leste da capital paulista um homem chamado Francisco Chagas de Sousa, conhecido no mundo do crime como Coringa, que seria dono de um estabelecimento de venda de bebidas alcoólicas. Numa operação na adega, os policiais encontraram drogas, uma pistola e um pen drive que trazia uma complexa listagem e contabilidade de pessoas que seriam integrantes do PCC, assim como os negócios que mantinham com a quadrilha.

A Justiça autorizou o aprofundamento das investigações e uma escuta telefônica revelou que Coringa, que seria responsável pelo tráfico interestadual do PCC nos estados de São Paulo e Paraíba, falava com Gordão, uma das lideranças do PRTB. Dias depois, foi o nome de Escobar que apareceu nas investigações.

De acordo com a Polícia Civil de São Paulo, Escobar teria orientado Gordão a tratar com Coringa a troca de um automóvel BMW X5, avaliado em mais de R$ 700 mil, por cocaína.

Ainda segundo os investigadores, a droga em si não passava pelas mãos dos dois investigados ligados ao PRTB, mas era de conhecimento tácito por parte deles que os valores, fossem em dinheiro ou por meio de carros luxuosos, era destinado à aquisição de cocaína em grande quantidade, que após ser vendida, por valores altíssimos, tinha o lucro dividido entre os três, Coringa, Escobar e Gordão.

A reportagem afirma ainda que diálogos dos envolvidos obtidos pelos investigadores mostram conversas abertas sobre a administração de questões relacionadas ao PCC, como a advertência de integrantes, um controle minucioso do contingente da quadrilha (espécie de censo) e outras atividades da organização.

CartaCapital

Escreva sua opinião

O seu endereço de e-mail não será publicado.