PF investiga envolvimento de facções em eleição de João Pessoa

A Polícia Federal investiga o envolvimento de facções criminosas nas eleições municipais de João Pessoa , além da proibição de manifestações políticas em favor de candidatos de oposição.

As investigações ganharam o centro do debate eleitoral na capital paraibana. Opositores acusam a gestão do prefeito e candidato à reeleição Cícero Lucena ( PP ) de ter relação com o crime organizado, que atuaria para impedir outros postulantes ao cargo de fazerem campanha em comunidades da periferia.

Ruy Carneiro (Podemos), Luciano Cartaxo (PT) e Marcelo Queiroga (PL) se uniram e protocolaram nesta quarta-feira (11) na Justiça Eleitoral um pedido de presença de tropas federais em João Pessoa.

Em nota, o prefeito defendeu eleições limpas e acusou os adversários de atuarem para macular a sua imagem e se unirem em “um festival de preconceito, mentiras e ataques às instituições”.

Nesta terça-feira (10), a Polícia Federal deflagrou a Operação Território Livre e cumpriu três mandatos de busca e apreensão no bairro São José, periferia da capital paraibana. As investigações apontam que os investigados estariam usando violência para coagir eleitores.

Foram apreendidos na operação R$ 35 mil em dinheiro, celulares, documentos com dados pessoais de diversas pessoas que não moravam no local da busca, além de contracheques de funcionários da prefeitura. Não havia servidores municipais entre os alvos desta operação.

Em maio, a Operação Mandare, também liderada pela Polícia Federal, investigou a relação entre a prefeitura e uma facção local que atua no tráfico de drogas.

A investigação relatou que um dos líderes da organização negociou cargas na prefeitura e teve como contrapartida o acesso livre às comunidades.

Na operação, foram realizadas buscas nas secretarias de Saúde, de Direitos Humanos e Cidadania, na autarquia de limpeza urbana de João Pessoa, e na casa da secretária executiva de Saúde, Janine Lucena, que é filha do prefeito.

Procurada, a assessoria da secretária disse que ela se manifesta apenas nos autos do processo. Na época da operação, o prefeito Cícero Lucena disse que a secretária foi alvo de “ter recebido uma ligação do presídio para o telefone dela”.

No início da campanha eleitoral , os candidatos de oposição foram barrados em atividades de campanha em algumas comunidades.

Em 15 de agosto, o deputado federal e candidato a prefeito Ruy Carneiro registrou um boletim de ocorrência no qual relatou que suspendeu uma atividade de campanha no bairro do Cristo Redentor após ameaças de crimes.

Depois do episódio, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), pediu à Polícia Federal que fornecesse escolta ao deputado.

Em entrevista à imprensa nesta quarta-feira, Ruy Carneiro relatou outros casos de ameaças, incluindo um apoiador que foi avisado por criminosos que seriam expulsos do bairro caso gravassem uma propaganda a seu favor.

No último sábado (7), na comunidade Lagoinha, um grupo de apoiadores foi impedido de entrar no bairro para fazer campanha após ameaças.

“Estamos aqui defendendo a população de bem que mora nas comunidades e que não tem mais o direito de expressar a sua vontade, de trabalhar para um determinado candidato”, afirmou Ruy Carneiro nesta quarta.

Cartaxo e Queiroga se uniram nas críticas e pediram a quebra do sigilo das investigações.

“Não vamos aceitar, sob hipóteses alguma, que quem decide as eleições em João Pessoa sejam as facções criminosas em parceria com a prefeitura”, disparou o petista, que foi prefeito entre 2009 e 2016.

Queiroga, que foi ministro de Jair Bolsonaro (PL) e disputou sua primeira eleição, afirma que ouviu relatos de participantes que não se sentia seguro em manifestar apoio à sua candidatura em público.

“Se instituiu um clima de terror. O que está em jogo é a preservação da democracia na cidade de João Pessoa”, disse o candidato.

O prefeito declarou que vai acatar a decisão do Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba sobre uma possível atuação de tropas federais na capital paraibana. Mas lamentou a atitude dos adversários e disse que eles estão unidos em um posicionamento antagônico às tradições democráticas da Paraíba.

“Mais uma vez nossos adversários tentam manchar minha imagem e, pior, a imagem de nossa cidade. João Pessoa é morada de um povo pacífico e ordeiro, uma terra de gente de bem, onde todas as eleições sempre foram tranquilas”, afirmou.

“Eu defendo, e sempre defendo, eleições limpas, sem fake news, com respeito ao resultado e à democracia”, declarou Lucena.

Fonte: Folha de São Paulo

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