A crazy in power: O presidente “mais” impopular e odiado do mundo: Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sentou em sua cadeira na Casa Branca há apenas duas semanas. Nesses poucos dias, o novo homem mais poderoso do planeta se indispôs com pessoas e setores de todos os matizes e nacionalidades.
A crazy in power: um maluco no poder
As esferas mais influentes da economia e da política repreenderam publicamente o empresário, às vezes com palavras duríssimas. Entre outros adjetivos, suas medidas foram classificadas de “ilegais”, “caóticas”, “ineficazes”, “cruéis” e mesmo “más”.
Dos moderninhos do Vale do Silício às tradicionais montadoras automotivas. Do esquerdista francês François Hollande à direitista alemã Angela Merkel. Dos escandinavos aos árabes. Todos se juntaram para criticar o mandatário, que promove uma série de desmandos inaceitáveis – como aquele que barra imigrantes de sete países aos Estados Unidos (leia reportagem à pág. 50). “Se o nível atual de antagonismo persistir, ele não vai durar os quatro anos”, afirma Alexander Keyssar, professor de história e políticas públicas da Universidade de Harvard. “Vai precisar diminuir o ritmo ou os republicanos se voltarão contra ele.”
Primeiro, foram as empresas. O poderoso Vale do Silício, onde estão concentradas as maiores firmas de tecnologia do mundo, rebelou-se de modo coordenado contra Trump. Muitos dos grandes líderes do setor são imigrantes. De corpo presente, o fundador do Google Sergey Brin (que chegou como refugiado da ex-União Soviética aos Estados Unidos aos seis anos) compareceu a um protesto contra Trump no aeroporto de São Francisco, no sábado 28. Dois dias depois, mais de 2 mil funcionários do buscador se manifestaram, enquanto o presidente do grupo, Eric Schmidt, declarou que o republicano fará “coisas más” ao país. Em meio a críticas de empresas como Microsoft, Netflix, Amazon e SpaceX, uma das medidas mais significativas veio do serviço de hospedagem Airbnb. Brian Chesky, CEO, disse que proverá moradias de graça para imigrantes prejudicados pelas ações de Trump. Howard Schultz, executivo da rede de cafeterias Starbucks, prometeu ajuda semelhante, anunciando que, em cinco anos, vai contratar 10 mil refugiados nos 75 países onde as lojas estão presentes.
Tensão externa
A indústria automotiva, que foi o símbolo máximo dos anos dourados americanos e é o emblema da nova era de empregos e prosperidade que Trump promete, não ficou atrás. A Ford afirmou que o bloqueio de refugiados vai contra os seus valores. O comunicado acontece um mês depois de a montadora desistir de abrir uma fábrica no México, o que havia sido considerado uma vitória do novo presidente. Enquanto isso, a General Motors vem resistindo à pressão para fechar sua linha de produção mexicana. Já a companhia de carros elétricos Tesla se pronunciou em oposição às medidas de Trump. Internacionalmente, a BMW desafiou o mandatário ao dizer que continuará com os planos de abrir filial no México em 2019, apesar dos alertas feitos por ele.
No México, cada declaração de Trump chega com o impacto de um abalo sísmico. Companhias do país investiram em campanhas emocionais para conquistar nacionais e latinos nos Estados Unidos. A cervejaria Corona lançou uma peça publicitária dizendo que a América não é só um país, mas um continente inteiro. Uma propaganda da Aeromexico viralizou ao defender que fronteiras dividem pessoas, mas que nos céus elas não existem. “Algumas empresas ainda estão com medo, pois Trump vai tentar retaliar”, diz Keyssar. “Mas as vozes críticas estão crescendo muito.”
Trump causa calafrios nas empresas porque elas se expandiram no mundo conectado pelo livre comércio. Como é legítimo a qualquer empreendimento, estão com medo de perder dinheiro. Mas as negociações entre empresários e políticos se dão em diferentes níveis. Companhias modernas, como as do Vale do Silício, possuem milhares de estrangeiros no seu quadro de funcionários. Além disso, seus consumidores médios, jovens informados, são combativos nas redes sociais e majoritariamente contrários a Trump. Portanto, não é de se espantar que elas tenham atacado o presidente pesadamente. Por outro lado, gigantes como o Google também possuem milhões de dólares em contratos públicos, e sempre investiram muito em lobby (nos Estados Unidos, a prática é permitida). No caso do buscador, as relações eram especialmente próximas à administração Barack Obama. Com a vitória da oposição, já foram reportados diversos afagos ao novo governo. A empresa deu uma festa para republicanos e sua direção se reuniu várias vezes nos últimos meses com Trump. “Essas corporações se planejaram e hoje existem de acordo com uma lógica que bate de frente com o discurso do novo presidente”, afirma Terra Budini, professora de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Mesmo assim, acho muito difícil que não haja nenhum tipo de acomodação de interesses, pois ambos os lados precisam disso.”
Politicamente, nunca se viu tantos líderes globais criticando abertamente o homem mais influente do mundo. Entre os países da Europa ocidental, os maiores aliados americanos, não houve quem o apoiasse. A chanceler alemã Angela Merkel colocou Trump numa posição humilhante ao declarar que precisou lhe “explicar” o que é a Convenção de Genebra. O documento exige que os estados signatários recebam refugiados por motivos humanitários. O presidente da França, François Hollande, disse que a política isolacionista do colega trará “consequências” econômicas e políticas. Até a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, comparada ao mandatário americano por articular o Brexit, “discordou” de suas ações. Uma das declarações mais simbólicas veio do príncipe jordaniano Zeid bin Ra’ad, comissário da Organização das Nações Unidas (ONU) para direitos humanos. Para ele, Trump possui uma “atitude mesquinha”. Na esteira das polêmicas, a nova administração prepara ordens executivas para reduzir em pelo menos 40% a participação do país na ONU e em outras entidades internacionais, segundo o jornal “The New York Times”.
Trump causa calafrios em empresas que nasceram e prosperaram na era da globalização
Dentro dos Estados Unidos a situação não é diferente. Ao mesmo tempo em que o ex-presidente Barack Obama diz que o adversário coloca em risco os valores da nação, prefeitos e governadores falam que o bloqueio a imigrantes prejudicará o próprio país. Diversas instâncias do Judiciário afirmam que a medida é inconstitucional e se preparam para anulá-la. Mais de mil diplomatas americanos assinaram um documento apresentado ao Departamento de Estado na terça-feira 31. Do outro lado da fronteira, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, disse que receberia os refugiados dispensados.
Carl Bernstein, o jornalista que revelou o escândalo Watergate, responsável pela queda do ex-presidente Richard Nixon, declarou em uma entrevista que até mesmo aliados republicanos têm se perguntado se Trump possui “maturidade” e “estabilidade emocional” para comandar a Casa Branca. Trata-se da própria base de sustentação do presidente no Congresso – aqueles que podem levar a cabo um impeachment. Trump conseguiu juntar contra ele esses diferentes grupos porque suas alucinações transcendem a divisão entre direita e esquerda. São ataques a liberdades individuais e o respeito ao ser humano, compartilhados por todas as colorações políticas racionais há séculos. “Os Estados Unidos sempre se venderam como modelo para o mundo livre”, diz Alexandre Moreli, professor de história das relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O presidente está combatendo um estilo de vida que o país vem vendendo há décadas.”
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