A Desumanização da Polícia Rodoviária Federal (artigo)
Comunicação SINPRFSC
O sufoco que se abate sobre os Policiais Rodoviários Federais é algo jamais visto na história recente do Brasil. Tudo são números e metas. O Policial não cumpre mais o papel de ente que recebe e acolhe o usuário da rodovia. O policial não tem mais a preocupação com a humanização do trânsito e a paz que isto traz à sociedade. Agora ele é o algoz que, forçado, abandona Postos da PRF, abandona a rodovia, abandona o cidadão.
Os Policiais Rodoviários Federais estão a mercê de um sistema injusto que os aflige e os torna máquinas buscadoras de metas e resultados. Atualmente o Policial Rodoviário Federal não passa de mero marionete, títere, fantoche em mãos interessadas em se perpetuar no poder.
A carga de exigência psicológica que se abate sobre os policiais é extenuante e aviltante. Em pouco tempo teremos uma horda de policiais com problemas psicológicos. É impossível aguentar a carga que se impõe sobre os mesmos sem que haja o retorno disto.
A busca incessante por metas, por preenchimento de números, por demonstração de resultados, que a cada dia aumentam e extrapolam o senso do razoável, a incessante pressão sofrida, o controle exacerbado, a intolerância pessoal advinda dos superiores, a vigilância autoritária, estão adoecendo toda a categoria.
Adoecem os Policiais de “pista”, que nas mãos de incautos “chefes” sofrem as mais variadas formas de pressão e adoecem estes mesmos chefes que na cegueira da incompreensão que, (sim, somos policiais, mas muito mais importante somos SERES HUMANOS) os tornam seres desprezíveis a todos os policiais de pista! O retorno destes a casamata se dará em terreno extremamente conflituoso.
O que querem provar os novos administradores da PRF fechando unidades operacionais, controlando cada passo dos PRFs através de sinais de GPS? Sim, cada PRF possui um sinal de GPS que é capaz de controlar inclusive quanto tempo ele esteve no banheiro fazendo suas necessidades pessoais ou quanto tempo utiliza para sua alimentação.
O que buscam estabelecendo metas impensáveis, produção, tal como máquinas, de resultados numéricos estratosféricos, de carga de trabalho extenuante? Doze horas em pé e em atenção extrema não é tarefa viável para qualquer cidadão. Os Policiais mais “novos” já sentem o peso da carga imposta. Os Policiais mais “antigos”, com mais de 25 anos de serviços prestados à sociedade, estão a pequena distância da explosão mais incontrolável de suas emoções!!
Ninguém aguenta a carga de dezenas de anos de noites mal dormidas, de tensão extrema, de vivência de situações que abalam profundamente o psicológico, de atender acidentes de trânsito e retirar “migalhas” de pessoas em meio a ferragens. Isso deixa marcas profundas!
Se pôr a frente da sociedade para levar o tiro, sim, porque é isto literalmente que o Policial faz na sua jornada que o põe como herói, mas também o deixa como vilão do abandono de sua família. Além desta carga demasiada para um ser humano, ainda ser pressionado por quem deveria servir de escudo e proteção do mesmo jogando a atual categoria nas sombras da insatisfação e das doenças psicológicas.
Não à toa, os suicídios de Policiais Rodoviários Federais têm se intensificado nos últimos anos. Apenas mais um número para as estatísticas, que nesse caso não se faz menção alguma de se demonstrar.
A Polícia Rodoviária Federal é uma instituição de mais de 90 anos. Merece todo o respeito da população brasileira por tudo que já fez de bom e ainda fará. Os Policiais Rodoviários Federais são a parte mais importante da Polícia Rodoviária Federal. Mas neste momento estes policiais estão sob pressão intensa. Temo que muitos deles não irão suportar tal pressão. Muitos vão adoecer em pouco tempo. Alguns, espero realmente que eu esteja errado, sucumbirão às dores infligidas em suas almas.
Salvem a humanização da Polícia Rodoviária Federal enquanto é tempo.
Salvem os Policiais Rodoviários Federais enquanto é possível.
Depois de instalada a doença a cura não é algo simples.
“Não sois máquina, homens é o que sois!” (Charles Spencer Chaplin)
Gerson Manoel Farias
Presidente do Sindicato dos Policiais e Servidores da Polícia Rodoviária Federal no Estado de SC
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