Até 2060, derretimento de gelo da Antártida será irreversível

Foto: Wim Hoek/Shutterstock

Eventualmente, o mundo é informado sobre icebergs gigantes que se soltaram da Antártida, tal qual o recente A-76, certificado pela Agência Espacial Europeia (ESA) como o maior do mundo. Enquanto alguns cientistas consideram o desprendimento como parte do ciclo de vida das geleiras, outros apontam um sinal de que alterações climáticas estão agravando a desintegração do continente – e essa afirmação é corroborada por um estudo publicado pela revista Nature.

O estudo foi asssinado por cientistas de várias universidades e institutos de pesquisa. “A Antártica se encaminha para um ponto de inflexão climático em 2060, com derretimento catastrófico se as emissões de carbono não forem cortadas rapidamente. Enquanto as atenções se voltam para a mudança climática no Ártico, uma ameaça ainda maior se aproxima do outro lado do planeta”, disse, em artigo para o site The Conversation, Andrea Dutton – que é geoquímica carbonática e sedimentologista da Universidade de Wisconsin-Madison e uma das autoras da pesquisa.

A Antártida é a região que mais traz ameaças ao planeta, pois conta com quantidade suficiente de gelo terrestre para aumentar o nível do mar em mais de 60 metros – o que representa cerca de 10 vezes a camada de gelo da Groenlândia. Com pontos físicos de inflexão, que podem acelerar a perda de gelo de uma forma sem controle, a situação no continente pode atingir um ponto crítico em menos de 40 anos.

De acordo com à Nature, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no mesmo ritmo que acontecem atualmente, até o ano de 2060 a elevação do mar será desastrosa a ponto de se tornar irreversível e, a partir em 2100, o nível deverá subir de forma constante, 10 vezes mais rápido do que hoje.

Nos dias atuais, a Antártida conta com plataformas de gelo protetoras que ajudam a diminuir o fluxo das geleiras terrestres até o mar. Porém, as mesmas podem se diluir e até quebrar em contato com a água quente, que passa por de baixo das estruturas. Logo, conforme as plataformas são rompidas, penhascos podem acabar não conseguindo ficar em pé por muito tempo, correndo o risco de ruírem.

No artigo, pesquisadores explicam que existem duas possibilidades de instabilidade que podem acontecer. No primeiro caso, a parte das camadas de gelo da Antártida que estão em um leito rochoso abaixo do nível do mar podem ser direcionadas ao centro do continente, com o aquecimento da água derretendo as bordas inferiores, se desfazendo. Acima da água, a chuva e o derretimento da superfície podem criar rachaduras no gelo.

Para chegar nos resultados, os cientistas usaram um modelo computacional baseado na física das camadas de gelo. De acordo com as descobertas, basta um aquecimento acima de 2°C para que a perda de gelo na Antártida saia do controle, algo que deve ocorrer com a geleira Thwaites, responsável por drenar uma área de 160 quilômetros de comprimento. Infelizmente, as previsões atuais da Organização das Nações Unidas (ONU) e de outros órgãos internacionais são de que a Terra irá, de fato, aumentar em 2°C até 2060.

Outras projeções já não consideram a instabilidade dessa geleira gigante e estimam uma quantidade mais baixa de aumento do nível do mar. De qualquer forma, as duas possibilidades chegam nas mesmas duas conclusões: de que o cumprimento das metas do Acordo de Paris podem reduzir a elevação do mar e que o derretimento de camadas de gelo podem provocar, sim, um aumento do nível do mar.

A nova pesquisa da Nature é uma das primeiras a trazer dados além do século atual, comprovando que se as emissões de hoje continuarem da mesma forma, o nível do mar irá aumentar em seis centímetros ao ano até 2150. Se assim for, em 2300 o derretimento será 10 vezes maior do que o esperado pelas metas do Acordo, que planeja um crescimento da temperatura de 1,5°C a 2°C. Isso, contando com a ajuda da tecnologia para a remoção do dióxido de carbono do ar, esfriando o planeta.

De acordo com a ONU, as emissões precisariam ser reduzidas em 50% até 2030, e a previsão com base nos esforços atuais é de apenas de 1%. Por Phys.org/Olhar Digital

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