Como João Pessoa foi de capital “esquecida” a nova “queridinha” do verão do Nordeste

“Os turistas vão para Recife e pulam direto para Natal.”

Essa era a realidade que a professora Adriana Brambilla costumava descrever a seus alunos do curso de Turismo da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.

Por estar no meio de um dos trechos mais movimentados do litoral nordestino, a capital paraibana era conhecida pela tranquilidade, pelas praias quase desertas e por sua orla de prédios baixos e pequenos hotéis.

“João Pessoa não chamava atenção nacionalmente. Por muitos anos, ficamos de lado”, diz Brambilla, coordenadora do Grupo de Cultura e Estudos em Turismo (GCET) da UFPB.

Hoje, porém, quem visita a cidade encontra uma realidade bem diferente da João Pessoa “esquecida” de décadas atrás.

Prédios de luxo surgem por todos os lados, beach clubs ocupam o litoral, e a rede hoteleira está em franca expansão. Ao mesmo tempo, problemas típicos de grandes cidades começaram a aparecer: o trânsito está mais congestionado, atrações naturais, como bancos de corais e de areia em meio ao mar cristalino, estão lotadas, e restaurantes frequentemente têm filas de espera.

Nas redes sociais, moradores têm expressado seu descontentamento em tom de brincadeira. Centenas de vídeos e comentários pedem que os turistas evitem a cidade.

“Não cabe mais ninguém”, escreveu uma moradora em um vídeo no TikTok que mostra um engarrafamento.

Apesar das reclamações, a tendência é que o turismo em João Pessoa continue em ascensão. Em sua lista anual dos dez destinos mais promissores do mundo, a plataforma global de reservas Booking.com colocou a capital paraibana em terceiro lugar, destacando seu potencial para 2025.

“Estará no topo da lista de todos em 2025”, afirmou a projeção da empresa. João Pessoa ficou atrás apenas de Sanya, na China, conhecida como o “Havaí chinês”, e de Trieste, na Itália, localizada na costa do Mar Adriático.

Embora a cidade enfrente mudanças repentinas por causa do turismo de massa, Adriana Brambilla acredita que ainda não há sinais de “turismofobia” – fenômeno que marcou 2024 com protestos em cidades da Espanha saturadas pela chegada de visitantes.

“Mas é o que costumo dizer: a cidade só é boa para o turismo se ela continuar boa para a população”, conclui a professora.

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