Consumidor americano vai pagar pelo muro de Trump. Entenda

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem o direito de terminar a construção do muro na divisa entre seu país e o México, mas passar a conta para o outro lado da fronteira não é assim tão simples. Ele diz que vai sobretaxar os produtos mexicanos em 20% até recolher em impostos o que for gasto na obra, estimada em US$ 20 bilhões. O problema é que nenhum centavo desse dinheiro vai sair do bolso dos mexicanos.

O imposto de importação é estipulado pelo país importador e cobrado na passagem dos produtos pela alfândega. Dessa forma, quem paga é o importador, que repassa o custo maior para os seus clientes. Uma sobretaxa eleva os preços cobrados dos consumidores. Se o caminho para a construção do muro for a sobretaxa, o americano comum, que compra produtos Made in Mexico, vai pagar a conta.

É claro que, para maquiar esse fato, Trump pode argumentar que, ao sobretaxar os produtos mexicanos, ele estará criando uma dificuldade para que eles possam competir no mercado americano, o que poderia levar a uma redução das margens de lucro. Esse é um efeito colateral possível, mas não garantido. Muitas vezes, as cadeias de fornecimento são difíceis de mudar – trocar fornecedores pode ser mais difícil do que repassar um aumento de custo para o consumidor americano. Além disso, o importador pode trocar o produto mexicano por outro um pouco mais caro (mas com preço abaixo da sobretaxa de 20%). O consumidor bancaria a diferença de preço de qualquer maneira.

Trump também não pode esquecer que as regras do comércio internacional permitiriam que o México abrisse um contencioso para questionar a sobretaxa. Os impostos de importação precisam ser lineares para todos os países fornecedores, fora exceções, como acordos comerciais, decisões em contenciosos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e investigações anti-dumping. Chutar as regras da OMC pode abrir uma guerra comercial que no fim custaria caro para consumidores dos dois lados da fronteira.

O populismo não está alinhado com a busca pela prosperidade. Os acordos comerciais dos quais os EUA fazem parte beneficiaram amplamente o país, que compra o que precisa com custos menores. Vale a pena abrir mão disso em troca de empregos industriais em setores nos quais as empresas americanas não são muito competitivas? Um estudo do Instituto Peterson de Economia Mundial calculou que uma guerra comercial entre EUA, México e China pode custar 4,8 milhões de empregos americanos.

GAZETA DO POVO

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