Convênio orienta médicos a não pedir teste PCR para paciente com suspeita de Covid
Foto: Reprodução
Um dos maiores operadores de planos de saúde do país, o Hapvida Saúde está orientando médicos a não receitar exames RT-PCR para pacientes com suspeita de Covid-19. Esse tipo de teste é considerado o mais confiável para detecção da doença.
O jornal Folha de S.Paulo teve acesso a mensagens postadas em grupos de profissionais do Hapvida nos quais gestores da empresa orientam os médicos a receitar o exame do tipo sorológico (de sangue) mesmo para pacientes com sintomas da Covid, quando o PCR é o mais indicado.
Em casos tidos como mais graves, o teste rápido de antígeno -baseado em proteínas do vírus- é apontado como opção pelo grupo, embora o PCR seja o recomendado por especialistas.
“Temos disponível o exame RT-PCR para Covid-19. Entretanto, por vários motivos, solicito que optemos sempre para a utilização do exame ‘sorologia anticorpos totais’. Nos casos graves, risco assistencial ou risco importante de reclamação grave, podemos optar pelo teste antigênico”, diz mensagem enviada aos médicos que atendem na rede.
Em outra mensagem, os gestores informam que a orientação é que os pacientes não retornem após a realização do exame sorológico, “pois [isso] não altera a conduta de medidas farmacológicas ou não”.
A orientação da empresa vai contra resolução da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) que obriga os planos de saúde a autorizar de forma imediata a realização do exame RT-PCR para o diagnóstico da Covid.
Atuando em 19 estados, o Hapvida tem rede própria com 32 hospitais, 20 unidades de pronto atendimento e 105 clínicas. Atende ao todo a cerca de 7 milhões de pessoas.
Médicos do Hapvida Saúde conversaram com a reportagem sob condição de anonimato. Eles criticaram o procedimento adotado pela empresa, por contrariar a autonomia médica.
Os médicos destacam que, como os testes sorológicos só devem ser realizados a partir do oitavo dia de sintomas, parte dos pacientes sintomáticos têm deixado as consultas sem a perspectiva de um diagnóstico no curto prazo.
Um dos médicos, que atua em uma unidade de saúde do grupo em Fortaleza, disse que a orientação é que o exame PCR só seja solicitado se o paciente exigir ou ameaçar fazer uma reclamação formal contra a rede.
O procedimento tem sido alvo de reclamações de pacientes do Hapvida que não tiveram acesso ao exame PCR. Na plataforma Reclame Aqui, por exemplo, dezenas de pessoas registraram queixas no último mês sobre a não realização desse tipo de teste. Outros fizeram manifestações semelhantes em redes sociais.
Alguns pacientes afirmam que, diante das negativas da operadora de saúde, acabaram realizando o exame na rede pública, custeado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), ou de forma particular em laboratórios privados.
O problema, nesses casos, é o preço. Enquanto o teste sorológico ou de antígenos costuma girar em torno de R$ 100, o RT-PCR pode se aproximar de R$ 400.
Mas, de acordo com especialistas e entidades como a SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), a melhor opção de diagnóstico é mesmo o PCR. Nesse exame, coleta-se material da região da nasofaringe com o auxílio de um swab (um tipo de cotonete comprido). O teste é considerado o melhor para o diagnóstico da infecção aguda e identifica se a pessoa está ou não infectada naquele momento.
O teste de antígenos também é uma possibilidade nos casos de pacientes sintomáticos, segundo a SBI. O teste, além de mais barato, é mais rápido que o PCR, mas sua precisão é inferior.
Já os testes sorológicos, que podem ser encontrados em farmácias e têm sido indicados como primeira opção pelo Hapvida, não são indicados para detectar se a pessoa está com o vírus. Eles buscam os anticorpos contra o Sars-CoV-2 no sangue e, por isso, servem para apontar se a pessoa já esteve infectada.
“Exame sorológico não serve para diagnóstico. É um exame para fins epidemiológicos, para saber quantas pessoas já tiveram Covid”, afirma o infectologista Julival Ribeiro, da SBI. Questionada pela reportagem sobre o procedimento, o Hapvida Saúde afirmou que o tipo de teste usado é escolhido de acordo com os sintomas e o histórico clínico da pessoa. Destacou ainda que as opções de testes para Covid-19 precisam ser eficazes e com resultados rápidos para garantir a segurança dos pacientes.
“A escolha do teste é feita de acordo com a sintomatologia e a história clínica de cada paciente. A indicação do teste de antígeno se dá pela rápida obtenção de resultados na maioria dos casos. O que auxilia na tomada mais precisa das decisões”, disse. O Hapvida não se manifestou sobre a recomendação de testes sorológicos.
O Hapvida Saúde já esteve no centro de outras decisões polêmicas ao longo da pandemia. Conforme revelado pela Folha de S.Paulo em maio de 2020, a operadora de saúde demitiu um médico e ameaçou desligar outros profissionais que não adotassem a hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com suspeita de Covid.
Em nota enviada na época, o grupo Hapvida informou que a “a recomendação do tratamento é uma soberania médica, que leva em conta o histórico individual de saúde de cada paciente”.
COMO É O HAPVIDA SAÚDE
7 milhões de clientes
presente em 19 estados
37 mil funcionários
32 hospitais
20 uniades de pronto atendimento
105 Clínicas
109 centros de diagnóstico
TIPOS DE TESTES PARA COVID-19 RT-PCR
É o teste mais indicado por especialistas para detecção da Covid-19. Coleta material da região da nasofaringe com o auxílio de um swab (um tipo de cotonete comprido). O teste é considerado padrão ouro para o diagnóstico da infecção aguda, ou seja, para saber se a pessoa está ou não infectada naquele momento.
Antígeno
O teste de antígenos é mais barato e mais rápido que o PCR e também é uma possível opção. Mas a sensibilidade dele é inferior à encontrada no PCR, sobretudo nos casos de pacientes assintomáticos.
Sorológicos
Os teste sorológicos (exames de sangue), que podem ser encontrados em farmácias, por exemplo, são os mais baratos. Não são indicados para detectar se a pessoa está com o vírus. Eles buscam os anticorpos contra o Sars-CoV-2 no sangue e, por isso, servem somente para apontar uma infecção anterior.
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