EUA: Especialistas defendem que Donald Trump não receba os relatórios de inteligência a que seus antecessores têm acesso por riscos à segurança nacional

Foto: Joshua Roberts/Reuters

Ao meio-dia de quarta-feira (20) em Washington, Donald Trump passa a ostentar o título de ex-presidente dos Estados Unidos. Em vez de juntar-se aos quatro antecessores vivos, em um respeitado e glorioso pedestal, o republicano enfrenta o segundo julgamento político no Senado, desta vez por incitação à insurreição, após a aprovação do impeachment pela Câmara dos Representantes.

Trump deixa a Casa Branca sem cruzar com Joe Biden. Isolado, inspira também desconfiança, sobretudo pelos privilégios que lhe cabem como ex-presidente. Entre eles, o de receber rotineiros relatórios de inteligência e acesso a informações confidenciais.

Fora da esfera pública, o cidadão Donald Trump pode representar um potencial risco à segurança nacional, conforme alertou a experiente Susan Gordon, vice-diretora de Inteligência Nacional entre 2017 e 2019. Em artigo no jornal “The Washington Post”, ela considera Trump um ex-presidente “extraordinariamente vulnerável a maus atores com más intenções”. E há outro agravante: o de envolvimento comercial de empresas da família com entidades estrangeiras.

Jimmy Carter, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, para citar apenas os ex-presidentes que estão vivos, deixaram o cargo sem intenção de se engajar novamente na vida política. Atuam como influenciadores, escritores, líderes de entidades filantrópicas ou apenas desfrutam de hobbies inviáveis no período em que comandaram o país.

Não é o caso do atual presidente, que já expressou o desejo de voltar a ocupar o Salão Oval. “Minha recomendação, como veterana com mais de 30 anos da comunidade de inteligência, é não fornecer a ele qualquer instrução após 20 de janeiro”, antecipa Susan Gordon.

Desafeto de Trump, James Comey, seu ex-diretor do FBI, faz coro às preocupações de especialistas sobre as informações confidenciais que ele possa ter direito a receber após o fim do mandato. Esses briefings a ex-presidentes costumam ser controlados pelo diretor de Inteligência Nacional.

Na avaliação de Comey, Trump — “um demagogo mentiroso em quem não se pode confiar” — deve ser excluído de informações sensíveis à segurança dos EUA, como explicou ao programa “The View”, da ABC News.

O comportamento inadequado durante a transição de poder mais nefasta da história moderna faz Trump sair da Casa Branca com seu pior índice de aprovação em quatro anos: 29%, segundo revela a nova pesquisa do Pew Research Center. Cerca de 75% dos entrevistados o responsabilizam de alguma forma pela violenta invasão do Capitólio.

Como ex-presidente, ainda que condenado no processo de impeachment, ele terá direito à proteção vitalícia do Serviço Secreto e a uma pensão de US $200 mil anuais, entre outros benefícios. Mas daí a ocupar o lugar de honra reservado aos que já comandaram a nação é outra história. Por Sandra Cohen/G1

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