Florânia entra no mapa da Paleontologia do RN depois da descoberta de um fóssil mastodonte na zona rural do município
Em meio à paisagem da zona rural de Florânia, município da região Central do Rio Grande do Norte a 216 quilômetros de Natal, capital do estado, algo de diferente chamou a atenção do adolescente Edivan Gaudino Neto, 16 anos. Ele percebeu no leito de um rio uma suposta “pedra” com formato inusitado, como se tivesse dentes. Em casa, o garoto comentou com a irmã Ana Karollina Santos Silva, de 12 anos. Coincidência ou não, Karollina estudava sobre dinossauros na escola e constatou a possibilidade de ser restos mortais daqueles seres. Não se tratava de um “dino”, como pensaram, mas sem querer, os irmãos descobriram um fóssil pré-histórico do mastodonte, animal semelhante ao elefante atual, que viveu há mais de 10 mil anos nas Américas do Norte e do Sul. A confirmação veio por meio de profissionais do Museu Câmara Cascudo (MCC), após expedição nos dias 12 e 13 de agosto ao local, para o reconhecimento da espécie.
Informada sobre a descoberta pelo arqueólogo Astrogildo Cruz – responsável pela primeira análise dos vestígios, juntamente com o arqueólogo e professor de Geologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Orlando Figueredo –, a equipe do MCC coletou “fragmentos da defesa (presa de marfim) e da mandíbula com os dentes molares do animal e transportou-os para o Museu, em Natal, onde fizeram a limpeza e estudos complementares”, conta o biólogo da Instituição, Wagner de França Alves. “O proprietário da terra me procurou para avaliar se aquilo poderia ser um fóssil. Diante do potencial dos vestígios levei as fotos da peça ao MCC”, detalha Astrogildo Cruz.
Restos mortais do mastodonte já foram encontrados no Rio Grande do Norte e em quase todos os estados brasileiros, exceto no Tocantins, mas no município de Florânia é a primeira vez. A cidade já é conhecida por seus sítios arqueológicos, onde são encontrados vestígios de povos pré-históricos e históricos. Agora, ganha relevância, também, para a Paleontologia, ciência que estuda as formas de vida passadas por meio dos seus fósseis.
De acordo com a diretora do MCC, Maria de Fátima Ferreira dos Santos, a novidade expande a distribuição geográfica de fósseis no Estado. O mastodonte e outros animais de grande porte, como preguiças gigantes e tigres dentes de sabre, já foram descobertos em outros municípios potiguares, entre eles São Rafael, Nova Cruz, Apodi, Rui Barbosa, Montanhas e Antônio Martins. “Temos interesse de retornar a Florânia para coletar o que ficou da peça exposta e investigar a existência de outras espécies, como normalmente ocorre nos depósitos fossilíferos”, ressalta.
Contribuição científica
Fátima Ferreira explica que a descoberta é muito importante para o conhecimento científico, pois proporciona a observação de outras nuances como a causa da morte dos animais, patologias que os tenham acometido e os processos envolvidos na fossilização. Para tanto, o MCC possui um setor de Paleontologia e dispõe de laboratório e reserva técnica, que abrange metodologias de coleta de amostras e dados em campo para embasamento e organização das coleções científicas. Os projetos desenvolvidos no setor são atividades acadêmico-científicas para alunos dos cursos de Geologia e Ciências Biológicas da UFRN. Já o acervo serve como objeto de pesquisa para monografias, dissertações e teses.
A Instituição da Rede Universitária de Museus da UFRN (RUMUS), explica que o MCC também dispõe dos setores de Etnologia – para estudo dos povos e culturas – e Arqueologia – para estudo das formas de vida em períodos geológicos passados. O acervo do maior museu do Estado pode ser apreciado na área de exposição, onde os visitantes são apresentados a carapaças e ossos de tatu, defesas de elefantes, ossos de preguiças, entre outras peças milenares até de tempos muito distantes, como fósseis de invertebrados que viveram há 65 milhões de anos.
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