GUERRA: Trump lança mísseis contra a Síria em resposta ao ataque químico
Os Estados Unidos lançaram nesta quinta-feira 50 mísseis de cruzeiro sobre instalações militares sírias como represália pelo ataque químico em que morreram cerca de oitenta pessoas e que Washington atribui ao regime de Damasco. A ação, sem prévio aviso, é o primeiro ataque direto de EUA ao regime de Bashar al Assad em seis anos de guerra civil síria.
Em uma declaração à imprensa, o presidente norte-americano, Donald Trump, assegurou que o bombardeio responde ao “interesse vital de segurança nacional” dos EUA. Os mísseis atingiram aviões e instalações áreas e de fornecimento de gasolina.
Os EUA atacam desde 2014 posições do Estado Islâmico na Síria e têm 900 soldados espalhados pelo país. Mas os norte-americanos não tomam nenhuma ação militar contra o regime, que também combate os jihadistas. Qualquer intervenção de Washington contra Assad dispararia a tensão com Moscou, o principal fiador do ditador sírio e que a quem apoia militarmente, e significaria um ponto de inflexão nos seis anos de sangrenta guerra civil síria. Trump, que defende um papel mais isolacionista da primeira potência mundial, advoga por melhorar a relação com Rússia.
Trump disse na quarta-feira que sua atitude sobre Assad “mudou muito” após o ataque químico da terça-feira no norte da Síria e que, para ele, “cruzava muitos limites”. Foi uma alusão à promessa de Barack Obama, seu antecessor na Casa Branca, que assegurou que o uso de armas químicas por parte do regime de Damasco seria uma “linha vermelha” que lhe levaria a intervir militarmente contra as forças do Assad.
Em agosto de 2013, após um ataque químico em que morreram mais de 1.400 civis, Obama propôs lançar uma campanha de bombardeios contra posições do regime sírio, mas a cancelou de última hora quando decidiu negociar com a Rússia um acordo para que Damasco eliminasse seu arsenal de armas tóxicas.
Algumas horas antes dos primeiros ataques, Trump evitou revelar se achava que Assad deveria abandonar o poder, algo que já fez na campanha eleitoral e que lhe distancia da posição oficial da anterior Administração. “Acho que o que aconteceu na Síria é uma desgraça para a humanidade, e ele [Assad] está ali, e suponho que ele esteja gerenciando as coisas, de modo que suponho que algo deveria ocorrer”, disse com ambiguidade.
No entanto, o secretário de Estado, Rex Tillerson, foi mais peremptório. Explicou que Washington está considerando uma “resposta séria” à matança química e sugeriu que o presidente sírio deveria renunciar, algo que o Governo norte-americano disse na semana passada que não era uma prioridade.
O ataque químico parece ter alterado a equação da nova Administração norte-americana. “O papel de Assad no futuro é claramente incerto, com os atos que tomou parece que não há um papel para que ele governe o povo sírio”, assinalou Tillerson em uma coletiva de imprensa em Palm Beach depois de receber o presidente chinês.
O chefe da diplomacia norte-americana explicou que se estão tomando passos para que a comunidade internacional impulsione um processo que leve à renúncia do presidente sírio, em linha com as frustradas tentativas negociadoras dos últimos anos.
“O processo por meio do qual Assad renunciaria é algo que acho que requer um esforço da comunidade internacional”, disse. “Primeiro para derrotar o ISIS dentro da Síria, estabilizar o país e evitar uma maior guerra civil, e depois para trabalhar coletivamente com nossos sócios ao redor do mundo em um processo político que levaria à saída de Assad”.
Resolução na ONU
Por outro lado, os EUA, com o respaldo de Reino Unido e França, tratam nesta quinta-feira em paralelo de fazer pressão na Rússia apresentando no Conselho de Segurança da ONU uma proposta de resolução retocada, em que se condena o ataque com armas químicas e exorta por uma investigação para poder exigir responsabilidades. Moscou já impediu na véspera seu voto, porque considerou o texto uma provocação, informa Sandro Pozzi de Nova York.
Da Flórida, Tillerson, que na semana próxima viaja a Moscou, instou a Rússia a “considerar cuidadosamente seu apoio contínuo a Assad”.
O debate na ONU mostrou a tensão que há entre Rússia e as potências ocidentais, com duras acusações cruzadas. Mesmo assim, os patrocinadores do texto confiam que a delegação russa reconsidere sua postura e evite recorrer pela oitava vez ao veto. O texto final que querem submeter a votação foi modificado para tentar conseguir o respaldo de todos os membros do Conselho de Segurança.
DO EL PAIS
Escreva sua opinião
O seu endereço de e-mail não será publicado.