Joesley Batista disse à Polícia Federal que fez gesto de dinheiro para Temer
O empresário Joesley Batista disse nesta quinta-feira, em depoimento à Polícia Federal, que fez gesto de “dinheiro” com os dedos durante o encontro que teve com o presidente Michel Temer, em março do ano passado, no Palácio do Jaburu. A informação é da TV Globo.
Segundo Joesley, o gesto foi feito ao perguntar a Temer se podia tratar de todos o assuntos com Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado e ex-assessor especial do presidente. O GLOBO procurou ontem à noite o Palácio do Planalto e não obteve resposta até a conclusão desta edição.
À PF, Joesley acrescentou detalhes sobre o dia em que gravou uma conversa com Temer para usar o diálogo como prova no acordo de delação premiada fechado com a Procuradoria-Geral da República.
Joesley disse à PF que “questionou Temer de maneira enfática: posso tratar todos os assuntos com Rocha Loures? Ocasião que, simultaneamente o depoente demonstrou gestualmente ao presidente uma sinalização de dinheiro com os dedos; que o presidente Michel Temer também enfaticamente respondeu dizendo que poderia tratar de tudo com Rocha Loures e que Loures é da minha mais estrita confiança’”.
No depoimento, Joesley afirma que, “a partir de então, passou a tratar e conversar com Rocha Loures como se esse, de fato, fosse verdadeiro preposto e intermediário nos assuntos de interesse Michel Temer”.
Em outro trecho do depoimento, Joesley afirmou que não fez pagamentos a Temer para que suas empresas se beneficiassem do decreto dos portos, razão pela qual Temer é investigado na Polícia Federal por supostamente favorecer o interesse de empresas do setor.
— Joesley afirma um envolvimento geral (do presidente em outros casos), em que ocorreram alguns pagamentos — disse André Callegari, advogado de Joesley. — Mas em relação a decreto de portos e medidas provisórias, ele negou taxativamente qualquer pagamento para o presidente — completou.
Callegari também disse que o empresário deseja continuar com sua delação premiada.
Mais crise na PF
O dia também foi de mais um capítulo na crise que se instalou na Polícia Federal. Em reação às declarações do diretor-geral da PF, Fernando Segovia, sobre o inquérito que investiga o presidente Michel Temer, delegados do Grupo de Inquéritos Especiais (Ginq) advertiram, em memorando interno, que não vão aceitar interferência nos trabalhos sobre supostas fraudes relacionadas ao decreto dos portos.
No documento, revelado pelo site do GLOBO ontem, os delegados dizem que, se houver intromissão, vão pedir medidas cautelares contra Segovia ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base no artigo 319 do Código de Processo Penal. Entre as medidas, estão previstos o afastamento e até mesmo prisão domiciliar. O diretor de Combate à Corrupção da PF, Eugênio Ricas, respondeu dizendo que as apurações seguirão “doa a quem doer”, enquanto Segovia se reuniu com entidades reconhecendo ter errado nas declarações e prometendo ficar calado.
No memorando, os delegados avisam que “não admitirão nos autos do inquérito 4.621 ou em outro procedimento qualquer ato que atente contra a autonomia técnica e funcional de seus integrantes, assim como atos que descaracterizam a neutralidade político-partidária de nossas atuações”. O memorando, assinado por 12 delegados, aumenta a tensão na PF.
Para os investigadores, a intromissão indevida pode configurar “prevaricação, advocacia administrativa, coação no processo e obstrução de investigação de organização criminosa”. Embora não mencione o nome do diretor-geral, o recado é para ele. Em entrevista à Reuters, Segovia disse que não existem indícios contra Temer e sinalizou o arquivamento do inquérito.
Segovia já foi convocado pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito no STF, a prestar esclarecimentos. Para alguns delegados, a reunião entre o ministro e o diretor-geral será decisiva para o destino de Segovia e o desfecho da crise.
(Jailton de Carvalho, Bela Megale, Bruno Calixto e G1)
Escreva sua opinião
O seu endereço de e-mail não será publicado.