Lula diz a Moro que nunca teve intenção de comprar o tríplex
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em depoimento ao juiz Sergio Moro que nunca teve a intenção de comprar um tríplex no Guarujá. Ele afirmou que a compra de um apartamento simples foi fechada pela sua esposa, Marisa Letícia, em 2005.
“Não havia no início e não havia fim [intenção de adquirir um tríplex]”, afirmou o ex-presidente. “Nunca houve a intenção de adquirir um tríplex.”
“Eu fiquei sabendo do apartamento em 2005, quando comprou e declarou no Imposto de Renda em 2006´”, disse. Lula negou ter conhecimento do termo de adesão apreendido em seu apartamento em São Bernardo do Campo, no qual aparecia uma menção ao apartamento duplex que seria transformado em tríplex depois de a obra ser assumida pela OAS, em 2009.
A OAS assumiu a obra depois de ela ter sido abandonada pelo Bancoop. Na época, todos os cotistas tiveram de fazer uma escolha entre retirar o valor pago ou aceitar pagar a diferença para a conclusão da aquisição. Segundo o Ministério Público Federal, a família de Lula foi a única que não formalizou uma opção. A hipótese levantada pelo ex-presidente no depoimento é a de que Marisa Letícia não recebeu o comunicado para participar da assembleia em que se definiu a opção de compra com a OAS.
Na ação, o MPF aponta que o apartamento que havia originalmente comprado por Marisa Letícia foi vendido a outros clientes da OAS. “Devem ter vendido sem ter falado com dona Marisa”, disse Lula.
O ex-presidente confirmou que esteve uma vez no tríplex, em 2014, a convite do ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro. Em depoimento, Pinheiro disse que a visita foi para apresentar o apartamento que estava reservado a Lula desde que a empreiteira assumiu a obra. A versão de Lula é outra: “O Léo esteve no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o tríplex e fui ver o apartamento, coloquei 500 defeitos voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento.”
Em alguns trechos do depoimento, o ex-presidente chegou a ficar irritado com a insistência do Ministério Público em questiona-lo sobre reuniões com o presidente da OAS, Leo Pinheiro. “Posso ter tido outras reuniões, o Leo não tratava de tríplex, o Leo trabalhava de empresa, de economia”, disse Lula. “Eu conversei do tríplex com Leo em outubro de 2013. Só fui visitar o prédio em fevereiro de 2014. Nunca mais se conversou sobre tríplex”, garantiu Lula ao juiz Moro.
Segundo Pinheiro foi feita uma reforma no apartamento para atender o ex-presidente e sua falecida esposa. Lula disse que não tinha conhecimento da reforma e que o ex-presidente da OAS ficou de pensar uma proposta para que ele ficasse com o apartamento. Uma segunda visita ao prédio foi feita em agosto de 2014 por Marisa Letícia, mas a decisão teria sido não ficar com a unidade.
No depoimento, Lula afirmou que a primeira vez em que se falou em tríplex foi em uma reunião em 2013, da qual participaram Léo Pinheiro e Paulo Okamotto, que dirige o Instituto Lula. Nessa ocasião, eles teriam discutido a diferença de valores entre o pago pelo apartamento simples o preço do tríplex.
Encontro com Duque
Lula explicou a Moro o encontro com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, em 2014, no qual teria dito que o ex-executivo não podia ter contas no exterior. “Eu disse que tinha muito boato que estava sendo roubado dinheiro e que o Duque tinha conta no exterior”, disse o ex-presidente. Lula negou ter procurado outros ex-diretores da estatal. “O PT indicou o Duque, com outros partidos políticos, eu penso que foi para a Casa Civil, cumpriu todo o ritual. Então eu fiquei muito puto da vida, muito puto, e falei [com Duque] e ele disse que não [tinha contas no exterior]. Se ele disse que não ele não mentiu pra mim, ele mentiu para a consciência dele”, disse.
Em depoimento ao juiz Sergio Moro na segunda-feira (8) em outro processo, Duque relatou ter encontrado Lula em 2014 e que na ocasião o ex-presidente teria dito que Duque não podia ter contas no exterior em seu nome.
Por André Gonçalves, Guido Orgis, Kelli Kadanus e Fernando Martins
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