Pessoas estão tomando radiação indevidamente, aponta debate
Aparelhos de radiologia são utilizados de forma inadequada por pessoas sem a habilitação necessária em aeroportos, penitenciárias e órgãos públicos, denunciaram participantes de audiência pública promovida nesta segunda-feira (30) pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). A legislação em vigor exige que os operadores de equipamentos emissores de radiação ionizante tenham diploma de técnico ou tecnólogo em radiologia.
A falta de conhecimento técnico pode acarretar problemas de saúde para a população, exposta muitas vezes a uma quantidade de radiação superior ao necessário e recomendável afirmou Adriano Levay, presidente dos Conselho Regional de Técnicos em Radiologia do Distrito Federal.
— Câmara e Senado, fóruns, tribunais de Justiça no Brasil inteiro, aeroportos, por onde passam milhões anualmente, estão fazendo as pessoas tomarem radiação de graça — disse Levay.
O uso de bodyscanner – como são chamados os aparelhos de escaneamento corporal – é suspeito de causar problemas de saúde, incluindo abortos. De acordo com a presidente do Conselho Nacional de Técnicos em Radiologia (Conter), Valdelice Teodoro, foi identificado que várias mulheres teriam perdido seus bebês após visitarem parentes em uma unidade prisional de Vila Velha (ES). Segundo ela, o uso inadequado dos equipamentos está diretamente relacionado à falta de conhecimentos específicos de agentes penitenciários sobre anatomia e radiação:
— Quem está olhando não entende que aquela massa que está no ventre da pessoa é um feto e pede para passar pelo aparelho de novo e de novo — contou Valdelice.
Debatedores também denunciaram a falta do dosímetro em hospitais. O equipamento é usado para monitorar a radiação dentro da sala de radiologia. Aparelhos velhos e sem manutenção também expõem profissionais e pacientes dos hospitais a potenciais problemas de saúde, alertou Ubiratan Gonçalves Pereira, secretário da Federação Nacional de Técnicos e Tecnólogos em Radiologia (Fenatra). Segundo ele, falta fiscalização:
— Esses levantamentos radiométricos são obrigatórios em todas as clínicas radiológicas. Infelizmente nem todos cumprem. E assim como nem todos cumprem, a Vigilância Sanitária e a CNEN [Comissão Nacional de Energia Nuclear], mais uma vez, não fiscalizam — apontou.
Durante a audiência, debatedores também acusaram empresas de descumprir obrigações trabalhistas como pagamento de adicional de insalubridade e jornada de 24 horas semanais.
— Esse não é sempre o caso, mas qualquer ocorrência desse tipo em um setor tão sensível representa um grande risco e isso tem de ser alertado. Risco para o profissional, que tem diretamente sua saúde comprometida em razão da imprudência de alguns empregadores, e risco para a população, que muitas vezes é atendida por profissionais sem as devidas qualificações exigidas em lei e sequer têm conhecimento desse perigo — avaliou o senador Paulo Paim (PT-RS), presidente da CDH.
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