Covid: Sem financiamento pelo SUS, tratamento do humorista Paulo Gustavo custa R$ 30 mil/dia, diz médica

O tratamento por oxigenação por membrana extracorpórea (Ecmo), que está sendo feito pelo ator Paulo Gustavo para combater complicações da COVID-19, custa, em média, R$ 30 mil por dia e foi barrado de ser disponibilizado na rede pública, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O humorista está internado desde o dia 13 de março e precisou da espécie de “pulmão artificial” após piora do quadro de saúde, na sexta-feira (2/4).

No Brasil, o SUS oferece o tratamento, principalmente, em cirurgias cardíacas, como ponte de safena ou troca de válvula, em unidades especializadas, como o Instituto do Coração e o Instituto do Câncer. Porém, a máquina também é utilizada para o tratamento de pneumonias graves. No entanto, ele foi barrado em 2015 pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para esta finalidade.

O Conitec levou em conta que as pesquisas existentes sobre o tratamento mostram a eficácia dele, porém, para seu uso, são necessários centros especializados e um gasto bastante elevado. Por isso, a comissão solicitou a elaboração de um protocolo de pesquisa.

“Não é um tratamento habitual, porque é preciso dominar a técnica e ter experiência. Existe muito risco de trombose e de sangramento. Então acaba por sendo segunda e terceira linha de tratamento. O custo acaba sendo alto e muitos planos de saúde não fazem a cobertura. O SUS não fornece por não ter estrutura para isso. Precisa de uma equipe, alguém que monitore o equipamento 24 horas”, explica o infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior. 

Segundo ele, a taxa de sobrevivência para quem usa o tratamento é de 60% nos melhores serviços do mundo, ou seja, onde a terapia já é usada rotineiramente. Em centros não especializados, a taxa cai para 20% a 30% de chance de sobrevivência. Além disso, o médico destaca que o Brasil enfrenta outro problema para usar o tratamento: a falta de materiais. “Está faltando material de base, que são os descartáveis, como tubos. Tem semana que tem e tem que semana que não”, explica. 
No Brasil, o uso do Ecmo ainda é muito restrito. Por aqui, só existem 21 centros registrados na sociedade internacional Extracorporeal Life Support Organization (Elso), que reúne os locais que fazem uso da terapia.

É um tratamento também novo, que só existe há 10 anos. Só em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) passou a reconhecê-lo. Segundo a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, o preço para usar a terapia gira em torno de R$ 30 mil por dia e muitos planos de saúde não liberam sua utilização.

“Muita gente não tem a chance de ser tratado numa ótima estrutura, como Paulo Gustavo, nem tem chance de ter a ECMO, dispositivo relativamente caro. Não se consegue fazer Ecmo em alta escala no SUS”, disse à CNN. 

Veja como funciona o sitema ECMO 

A técnica é muito mais complexa do que um respirador. O ECMO é uma máquina que fica ligada ao paciente e que substitui a função do pulmão e do coração. Ele é utilizado em pacientes graves que poderiam morrer sem o equipamento. No procedimento, o sangue é tirado do corpo do paciente, levado à máquina que tira o gás carbônico do sangue, coloca oxigênio e e devolve para a veia.

Paulo Gustavo, que tem 42 anos, é bom candidato para o tratamento, já que, segundo recomendações da Elso, a terapia é mais indicada para pacientes jovens e sem comorbidades.

“Não é todo mundo que tem ser colocado em Ecma. Só aquele que tem condições de recuperar. Por exemplo, idade acima de 70 anos é contraindicado porque o risco de causar dano é tão grande que não recomenda”, afirma Werciley. 

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