“Vidas salvas não têm preço”, enfatiza infectologista sobre os benefícios do saneamento
Em meio às águas lamacentas de um esgoto a céu aberto, três crianças brincam de bola na rua. Deveria ser incomum, mas essa ainda é uma cena frequente na maioria das cidades do Brasil. E apesar das melhorias que foram ocorrendo ao longo do tempo, é alto o número de pessoas que adoecem devido à precariedade do saneamento básico.
Há apenas trinta anos, eram praticamente diários os casos de mortes de crianças por doenças de veiculação hídrica no Estado, de acordo com o médico infectologista Kleber Luz. Diarreia aguda, hepatites, leptospirose, cisticercoses, giardíase, ascaridíase, ancilostomíase, diversos vírus e até mesmo a poliomielite e a cólera são algumas delas.
“É uma infinidade de doenças virais, bacterianas ou parasitárias que podem comprometer a saúde da população e os impactos são terríveis. Não é só o adoecer, mas todo mundo sabe que as doenças causadas por vermes podem produzir retardo do desenvolvimento neurológico das crianças”, conta o infectologista. E completa: “O tratamento de esgoto é fundamental para evitar esse tipo de doenças”.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, as crianças são a parcela mais vulnerável da população quando se trata de doenças relacionadas à falta de esgotamento sanitário e água tratada. Isso se deve principalmente ao fato de possuírem o sistema imunológico ainda pouco desenvolvido.
“Ele ficou assim cheio de ferida na mão, na cabeça”, conta Ana Maria, 25 anos, moradora do bairro Nordelândia, na Zona Norte de Natal, que depois de consulta em posto de saúde, atribui uma infecção na pele de seu filho à falta de saneamento na região em que mora. João Lucas, de 5 anos, também já teve vários outros problemas, como casos de diarreia, pela ausência de um bom sistema de esgotamento. “Ele já apresentou outras doenças, algumas delas podem ter sido provocadas pelo fato dele brincar na rua. Por este motivo, não tenho deixado ele brincar mais”, esclarece Ana Maria.
Cerca de 88% das mortes por diarreia no mundo são atribuídas ao saneamento inadequado, revelam dados do IBGE. A desnutrição também é um problema grave decorrente da precariedade do sistema sanitário. Segundo informações de 2014 do Instituto Trata Brasil, apenas 37,5% de todo o esgoto do Brasil é devidamente tratado.
Através das obras de esgotamento sanitário do Governo do Estado que estão sendo realizadas em Natal pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), a capital potiguar irá se tornar a primeira do país a ser 100% saneada. O saneamento básico, ao abranger toda a população, pode trazer avanços significativos em termos de saúde pública.
“Eu penso que esse impacto social de autoestima da população de morar numa cidade saneada é uma coisa bastante importante. E o impacto da saúde é fundamental, porque fezes a céu aberto ou fezes em fossas sépticas é igual a doença, enquanto fezes numa rede de coleta com esses resíduos sanitários sendo tratados é igual a saúde”, comenta Kleber Luz.
Além dos benefícios na área da saúde, há inúmeros outros. Educação, turismo, desenvolvimento urbano e meio ambiente: o saneamento está inserido nas mais diversas áreas da vida da população e o seu investimento gera uma diminuição significativa nos gastos públicos com saúde.
Sobre os benefícios que um saneamento de qualidade proporciona, o médico é enfático: “Porque além do valor monetário, tem o valor das vidas. São vidas salvas. Vidas salvas não têm preço. Vidas salvas são vidas salvas”, diz Kleber Luz.
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